Venezuela expulsa embaixadores de sete países após questionamentos sobre eleições

 (Juan Barreto/AFP)
DA REDAÇÃO

O governo da Venezuela anunciou na tarde desta segunda-feira, 29 de julho de 2024, que vai retirar suas equipes de diplomatas de sete países que questionaram os resultados das eleições presidenciais realizadas no domingo. A medida inclui a retirada de diplomatas de Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai. Além disso, esses países também deverão retirar seus diplomatas do território venezuelano, marcando um rompimento diplomático significativo.

“O governo da República Bolivariana da Venezuela, ante este nefasto precedente que atenta contra nossa soberania nacional, decide retirar todas as equipes diplomáticas das missões na Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai”, afirmou o comunicado oficial, divulgado por Yvan Gil, ministro das Relações Exteriores da Venezuela.

A decisão do governo venezuelano é uma resposta às ações e declarações desses países, que pediram transparência na apuração dos resultados das eleições presidenciais. Na noite de domingo, esses países divulgaram uma nota conjunta solicitando maior clareza e detalhamento no processo eleitoral, destacando a importância de um processo transparente e justo.

A nota do governo venezuelano expressa um forte repúdio às ações dos governos de direita que, segundo a declaração, estão subordinados a Washington e comprometidos com os postulados do fascismo internacional. “A Venezuela expressa seu mais firme rechaço ante as ações de ingerência e declarações de um grupo de governos de direita, subordinados a Washington e comprometidos com os postulados mais sórdidos do fascismo internacional”, afirma a nota.

O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela divulgou que o presidente Nicolás Maduro venceu as eleições com 51% dos votos, mas não revelou detalhes dos resultados, como o total de votos por estado e seção eleitoral. A falta de transparência levantou suspeitas e pedidos de liberação desses dados por parte da oposição e de vários outros países.

Diversos líderes da oposição venezuelana afirmaram ter obtido cerca de 40% do total das atas de votação, e essas atas mostravam uma vitória do candidato opositor Edmundo Gonzalez. No entanto, a lei venezuelana determina que as atas de cada seção eleitoral devem ser de acesso público, mas membros da oposição relataram que foram impedidos de acessá-las durante a apuração.

O cenário político na Venezuela é marcado por tensões e incertezas. A decisão de expulsar embaixadores e diplomatas de sete países acentua a crise diplomática e política no país. A situação é ainda mais agravada pelas declarações ríspidas entre o presidente Nicolás Maduro e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que até então mantinham uma aliança histórica.

Na segunda-feira, 22 de julho, Lula disse em uma entrevista a agências de notícias internacionais que ficou “assustado” com a declaração de Maduro de que, se ele perder as eleições, haverá um “banho de sangue”. “O Maduro tem que aprender: quando você ganha, você fica, quando você perde, você vai embora. Vai embora e se prepara para disputar outra eleição”, complementou Lula.

Em resposta, Maduro afirmou em um comício na terça-feira, 23 de julho, sem citar diretamente Lula, que “quem se assustou que tome um chá de camomila”. Além disso, Maduro criticou o sistema eleitoral brasileiro, alegando que as eleições no Brasil não são auditadas, uma afirmação que foi prontamente refutada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) brasileiro, que cancelou o envio de observadores para o pleito venezuelano.

Diante desse cenário, a postura do governo brasileiro tem sido de cautela. A orientação é evitar “ruídos desnecessários” às vésperas da eleição na Venezuela, que ocorrerá no domingo, 28 de julho. Integrantes da diplomacia brasileira afirmam que não é o momento de “engajar em bate-bocas desnecessários”, mas de aguardar a manifestação dos venezuelanos nas urnas com “prudência” e “calma”.

A cautela busca também preservar a reação do Brasil após a divulgação dos resultados. Esta é a eleição considerada mais difícil para Maduro, que enfrenta baixa popularidade. Por outro lado, a oposição, que tem como candidato Edmundo Gonzalez Urrutia, vai para as urnas com otimismo reforçado.

O assessor de Assuntos Internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, tem embarque previsto para a Venezuela nesta sexta-feira, 26 de julho, para acompanhar a eleição. Amorim poderá ter encontros tanto com integrantes do governo Maduro quanto da campanha do opositor Edmundo Gonzalez Urrutia. De acordo com interlocutores, a determinação do presidente Lula de enviar Amorim sinaliza confiança na normalização do processo político da Venezuela.

A situação na Venezuela continua sendo um ponto de tensão na política internacional, com desdobramentos que podem afetar as relações diplomáticas entre diversos países da América Latina e do mundo. A comunidade internacional aguarda com expectativa os próximos passos do governo venezuelano e a reação dos países afetados pela decisão de expulsar seus embaixadores.