Trump Proíbe Harvard de Matricular Estudantes Estrangeiros e Aumenta Pressão Contra Universidades

DA REDAÇÃO

O governo de Donald Trump deu mais um passo drástico em sua ofensiva contra as universidades norte-americanas ao proibir, nesta quinta-feira (22), que a Universidade de Harvard matricule estudantes estrangeiros. A decisão, anunciada pela secretária de Segurança Interna Kristi Noem por meio da rede social X, envolve a revogação da certificação do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio (SEVP), o que na prática impede Harvard de receber alunos internacionais.

“Que isso sirva de aviso a todas as universidades e instituições acadêmicas do país”, afirmou Noem. A medida atinge diretamente cerca de 7 mil estudantes estrangeiros que representaram 27,2% do corpo discente de Harvard no último ano, segundo dados da própria universidade.

A ação acirra ainda mais a crise entre o governo Trump e instituições acadêmicas, especialmente Harvard, que classificou a decisão como “ilegal” e acusou a Casa Branca de retaliação política. Em comunicado oficial, a universidade afirmou que está comprometida em proteger sua comunidade internacional e que as exigências do governo ameaçam sua missão acadêmica, sua autonomia e causam “danos profundos ao país”.

Segundo o Departamento de Segurança Interna, Harvard tem 72 horas para cumprir uma lista de exigências caso deseje restabelecer sua certificação. Entre os pedidos estão o fornecimento de registros disciplinares de estudantes norte-americanos, acesso a vídeos e áudios de atividades consideradas “ilegais” no campus, além de documentos que comprovem como a instituição lida com protestos e manifestações.

O governo Trump vinha pressionando Harvard a adotar mudanças em seus processos de contratação, admissão e condução de aulas, principalmente após denúncias de antissemitismo. Em abril, Kristi Noem já havia ameaçado cortar os programas de visto para estudantes, e outras ações estavam sendo consideradas, como a suspensão da isenção fiscal da universidade e o congelamento de bilhões de dólares em subsídios federais.

A medida ocorre em um momento de crescente instabilidade nas relações entre a administração Trump e o meio acadêmico. Harvard, por sua vez, conta com um patrimônio estimado em US$ 53 bilhões, superior ao PIB de mais de uma centena de países. Essa solidez financeira tem sido um escudo para resistir à pressão governamental, embora a nova decisão possa gerar impactos jurídicos e diplomáticos consideráveis.

Diversas entidades de direitos civis e associações universitárias já manifestaram preocupação com o precedente aberto. A Associação Americana de Universidades, por exemplo, classificou a decisão como um ataque ao princípio da liberdade acadêmica e ao intercâmbio de conhecimento internacional.

Especialistas em direito educacional afirmam que a ofensiva pode ter consequências devastadoras para a imagem dos Estados Unidos como destino preferencial de estudantes de todo o mundo. Já estão em curso movimentações legais para contestar a medida nos tribunais, com ações coletivas sendo preparadas por ex-alunos e organizações ligadas à educação internacional.

A proibição imposta a Harvard também se insere em um contexto mais amplo da agenda nacionalista do governo Trump, que tem adotado uma série de políticas restritivas à imigração e ao intercâmbio educacional. A medida, vista por muitos como eleitoral, coloca em xeque o futuro de milhares de jovens que viam na universidade uma oportunidade de desenvolvimento acadêmico e profissional.

Com o prazo apertado imposto pela Casa Branca, Harvard terá pouco tempo para reagir formalmente. Enquanto isso, o clima de incerteza se espalha entre os estudantes internacionais que já estão nos Estados Unidos e os que planejavam iniciar seus estudos nos próximos meses. A comunidade acadêmica global observa com apreensão o desenrolar desse novo capítulo de tensão entre o governo Trump e uma das mais tradicionais instituições de ensino do mundo.