Sucessão no Vaticano: conheça os nomes mais cotados para suceder o Papa Francisco

DA REDAÇÃO

A morte do Papa Francisco, aos 88 anos, marca o encerramento de uma era na Igreja Católica e inicia um dos processos mais simbólicos e aguardados do mundo cristão: o conclave. Com a Sé de Pedro vacante, os cardeais eleitores, todos com menos de 80 anos, se reúnem para escolher o novo chefe da Igreja, num ritual que mistura tradição milenar, debates internos e expectativa global. Entre os possíveis sucessores, destacam-se nomes de diversas regiões do mundo, refletindo a mudança de perfil da Igreja no século XXI.

No centro das atenções está Peter Turkson, cardeal de Gana, reconhecido por sua atuação em áreas como justiça social, migração e meio ambiente. Nomeado cardeal por João Paulo II em 2003, Turkson teve papel de liderança em estruturas importantes do Vaticano, como o extinto Pontifício Conselho para Justiça e Paz e, mais recentemente, o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral. Caso seja escolhido, Turkson será o primeiro papa negro da história da Igreja, um marco de representatividade e ruptura com séculos de predomínio eurocêntrico.

Outro nome que vem ganhando força nas discussões internas é o de Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha. Conhecido por seu perfil pastoral e conciliador, Zuppi é visto como uma continuidade natural do legado de Francisco, mantendo o tom de abertura e diálogo que marcou os últimos 12 anos do papado. Ele é próximo da Comunidade de Santo Egídio, grupo leigo voltado para mediação de conflitos e ajuda humanitária, e tem boa interlocução com setores mais progressistas da Igreja.

Ainda sob o mesmo espectro ideológico, aparece Luis Antonio Tagle, cardeal das Filipinas. Próximo de Francisco e com passagens importantes por dicastérios do Vaticano, Tagle representa a Ásia, continente com crescimento expressivo do catolicismo. Seu nome reúne respaldo em diversos setores da Cúria Romana, além de simbolizar o avanço de um catolicismo mais jovem e em expansão fora da Europa.

Na ala mais conservadora, surgem nomes como Willem Eijk, dos Países Baixos, crítico contundente de algumas reformas doutrinárias promovidas por Francisco, e Raymond Leo Burke, norte-americano que tem expressado resistência ao que considera “relativismo doutrinário”. Ambos têm respaldo em setores mais tradicionais da Igreja, que ainda influenciam parte significativa do Colégio Cardinalício, mas enfrentam dificuldades em reunir ampla maioria para uma eleição.

O cenário eleitoral reflete uma Igreja em transição. Dos 135 cardeais eleitores, 108 foram nomeados pelo próprio Papa Francisco, o que indica uma forte inclinação para a continuidade do seu projeto pastoral. Essa composição favorece a eleição de nomes que representem o mesmo espírito reformador, focado em inclusão, atenção aos marginalizados, diálogo inter-religioso e defesa do meio ambiente.

Entre os latino-americanos, o nome do brasileiro Dom Sérgio da Rocha tem circulado com força. Atual arcebispo de São Salvador da Bahia, ele foi nomeado cardeal em 2016 e, desde 2023, integra o chamado “C9”, grupo de cardeais que assessora diretamente o papa no governo da Igreja. Com trajetória sólida, passagens por importantes dioceses brasileiras e formação acadêmica respeitada, Dom Sérgio representa uma voz respeitável do Sul Global e carrega a experiência de um país com uma das maiores populações católicas do mundo.

Segundo o jornal italiano Torino Cronaca, Dom Sérgio surge como uma possibilidade concreta, embora analistas apontem que o grupo progressista ainda não se unificou em torno de um único nome como aconteceu com Bergoglio em 2013. Ainda assim, sua presença constante no círculo próximo de Francisco o posiciona com vantagem simbólica.

A geografia dos cardeais eleitores também ajuda a compreender as novas direções possíveis. A Europa, que em 2013 representava 52% do total de eleitores, agora responde por cerca de 39%, enquanto Ásia, África e América Latina somam parcelas crescentes, sinalizando uma possível descentralização do poder eclesiástico. Francisco contribuiu para isso ao nomear cardeais de países historicamente periféricos, como Mianmar, Sudão do Sul, Mongólia e Tonga, numa clara intenção de desconstruir a hegemonia europeia.

O conclave, que deve acontecer nas próximas semanas, reunirá esses 135 cardeais sob rígido sigilo na Capela Sistina. Como manda a tradição, os cardeais não podem manter contato com o exterior durante o processo e só deixam o local após a escolha do novo pontífice, que será anunciada ao mundo pela icônica fumaça branca na chaminé da capela.

Além da representatividade geográfica, a escolha do próximo papa envolverá temas fundamentais para o futuro da Igreja: o enfrentamento aos escândalos de abuso sexual, a gestão financeira do Vaticano, a relação com as outras religiões, os desafios ambientais e o avanço da descrença religiosa no Ocidente. O novo pontífice terá a missão de continuar (ou modificar) os rumos estabelecidos por Francisco, que aproximou a Igreja das causas sociais, da ciência e dos debates contemporâneos.

Independentemente do nome escolhido, o novo papa herdará uma Igreja que hoje fala para mais de 1,3 bilhão de católicos espalhados pelos cinco continentes. Seu papel será, mais do que nunca, o de ponte — “pontífice” — entre fé, realidade e os dilemas de um mundo em mudança acelerada. A expectativa é de que a sucessão apostólica mantenha vivo o espírito de reforma, humanidade e diálogo que marcaram o pontificado de Jorge Mario Bergoglio.