
O Ministério da Saúde do Brasil enfrentou uma situação alarmante ao relatar a incineração de 10,9 milhões de vacinas vencidas em 2024. Esse número é um reflexo da ineficiência na gestão de imunizantes, que inclui não apenas vacinas contra a Covid-19, mas também outras destinadas a prevenir doenças como meningite, febre amarela e pneumonia. Dentre as vacinas incineradas, mais da metade corresponde a doses de vacinas contra a Covid-19, com cerca de 6,4 milhões já descartadas.
Além disso, outros 12 milhões de doses, que também já venceram, estão armazenados no estoque do Ministério, incluindo 9 milhões de vacinas da Janssen contra a Covid-19. A decisão de incinerar essas vacinas vem à tona em um momento crítico, em que o Brasil ainda lida com os impactos da pandemia e a importância de uma ampla vacinação na proteção da população. As informações sobre a incineração foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação e publicadas no final de outubro.
A quantidade de imunizantes desperdiçados é alarmante e preocupa especialistas em saúde pública. Em resposta a esta situação, o Ministério da Saúde percebeu que as campanhas de desinformação têm impactos na adesão da população às vacinas. Num contexto em que a Covid-19 ainda representa um risco significativo para a saúde, a incineração de vacinas desperdiçadas se torna um tema de debate entre os setores da saúde e da política.
Entre as vacinas já incineradas, destacam-se 3,1 milhões de doses da DTP, que previnem a diferença, o tétano e a coqueluche, e 663,2 mil doses da vacina contra febre amarela. O fato de que a vacina DTP e outras tenham sido perdidas é preocupante, pois a cobertura vacinal dessas doenças é crucial para a prevenção de surtos. A situação se torna ainda mais crítica quando se considera que o Brasil tem enfrentado uma crise de vacinação nos últimos anos, com quedas significativas nas taxas de imunização.
A aplicação das vacinas contra a Covid-19, por exemplo, começou atrasada e com dificuldades em 2024. Embora as taxas de vacinação tenham melhorado nos anos recentes, a situação atual destaca a fragilidade do sistema de saúde pública brasileiro, que deve ser capaz de atender às necessidades da população, especialmente em tempos de crise sanitária. O Brasil tinha saído da lista dos 20 países com mais crianças não vacinadas, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde e do UNICEF, mas essa nova onda de lixo ameaça reverter os avanços feitos.
O Ministério da Saúde também informou que não possui controle sobre a incineração de vacinas no âmbito estadual, o que indica um problema de gestão mais amplo que precisa ser abordado para evitar desperdícios futuros. Além disso, a pasta garantiu que, apesar do desperdício, não há falta de vacinas no país.
O cenário atual é ainda mais complicado pelo fato de que as campanhas de vacinação precisam ser incentivadas para garantir que a população se engaje e participe dos processos de imunização. O combate à desinformação tornou-se uma prioridade para o Ministério, que confirmar que uma comunicação eficaz é essencial para aumentar a confiança da população nas vacinas.
As autoridades de saúde salientam que, apesar da incineração das vacinas, a situação não é irreversível. O Brasil continua a trabalhar para aumentar a cobertura vacinal, desenvolvendo estratégias para melhorar a utilização de imunizantes e melhorar a logística de distribuição e armazenamento das vacinas. Contudo, uma crítica à gestão do sistema de saúde não pode ser ignorada. As medidas mais eficazes precisam ser adotadas para garantir que as vacinas sejam utilizadas antes que o prazo de validade expire.
Para evitar a repetição desse tipo de desperdício no futuro, o Ministério da Saúde adotou práticas como cláusulas de troca para lotes fornecidas com validade, contratos plurianuais para gestão eficiente, monitoramento contínuo dos estoques e reuniões mensais com laboratórios para ajuste de cronogramas de entrega. Essas medidas são um passo importante para garantir a eficiência na administração das vacinas.
A complexidade da situação exige também uma reflexão sobre a necessidade de um envolvimento mais forte das comunidades, com a participação de profissionais de saúde, líderes comunitários e a sociedade civil, para fortalecer a confiança na vacinação. As taxas de adesão às vacinas são fundamentais para garantir a saúde pública e a proteção da população contra surtos de doenças.
A crise de vacinação no Brasil é uma questão que não pode ser tratada de forma isolada. A sociedade precisa estar ciente da importância da vacinação e do impacto que a desinformação pode ter nas campanhas de imunização. Com isso, o governo, em colaboração com a sociedade civil e o setor privado, deve implementar estratégias que promovam a educação em saúde e a conscientização sobre a importância das vacinas.
As perdas de vacinas são um lembrete da fragilidade do sistema de saúde e da importância de uma gestão eficaz dos recursos disponíveis. A vigilância constante e o comprometimento das autoridades de saúde, aliados ao apoio à população, são essenciais para superar os desafios enfrentados e garantir que o Brasil se mantenha em um caminho positivo na direção à proteção da saúde pública.