Real Perde Para Peso Argentino e é Segunda Moeda que Mais Desvalorizou em 2024: Dólar Valoriza 12,4%

DA REDAÇÃO

A desvalorização do real brasileiro superou a do peso argentino, colocando a moeda brasileira com o segundo pior desempenho do ano. Um levantamento realizado a pedido da CNN por Einar Rivero, sócio fundador da Elos Ayta Consultoria, considerou 23 moedas globais e revelou que, até quarta-feira (19), o real tinha a maior desvalorização do índice. No entanto, na sexta-feira (21), o dólar caiu 0,38%, proporcionando um pequeno alívio para o real, que foi negociado a R$ 5,441, registrando ainda uma alta de 1,12% na semana. No acumulado do ano, a valorização do dólar em relação ao real é de 12,40%.

No final de 2023, a moeda brasileira estava em um momento positivo, impulsionada pela perspectiva favorável em relação ao exterior. Alexandre Cabral, professor de Finanças da Saint Paul Escola de Negócios, explica que o otimismo atraiu investidores estrangeiros, levando a cotação do dólar para baixo. No final de dezembro, o dólar era negociado na faixa de R$ 4,90. “O capital externo veio para o Brasil com a esperança de que os juros nos Estados Unidos caíssem em março. Se o juro cai nos Estados Unidos, a moeda vai para o mundo”, explica.

No entanto, Cristiane Quartaroli, estrategista de câmbio e economista-chefe do Ouribank, relembra que esse movimento foi uma antecipação por um momento que não aconteceu, devido ao adiamento dos cortes dos juros pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA. A economia norte-americana mostrou resiliência, com um mercado de trabalho aquecido e preocupações com a trajetória da inflação, o que levou o Fed a postergar o ciclo de cortes de juros.

Berenice Damke, professora do Insper e especialista em hedge, derivativos e gestão de riscos financeiros, avalia que, além dos fatores externos, a queda do real também foi influenciada por fatores internos, como o aumento da percepção de risco fiscal. Em 2023, a valorização do real refletiu o alívio em relação aos temores fiscais, com a aprovação do arcabouço fiscal e os esforços da equipe econômica para elevar a arrecadação e atingir a meta de déficit primário zero em 2024. No entanto, em abril deste ano, a revisão da meta fiscal para 2025 aumentou os temores sobre a responsabilidade fiscal do governo.

O mercado reagiu negativamente à alteração da meta, interpretando-a como uma abertura para a ampliação dos gastos pelo governo, que enfrenta dificuldades em elevar receitas. A mais recente investida do governo para manter a arrecadação em alta foi o envio de uma medida provisória para fechar brechas na legislação sobre crédito presumido PIS/Cofins, mas a medida gerou críticas e foi devolvida na semana seguinte de seu envio.

Evandro Buccini, sócio e diretor de Crédito e Multimercados da Rio Bravo Investimentos, destaca que o risco institucional e fiscal no país piora o prêmio de risco, trazendo pressão para a taxa de câmbio. “O risco institucional e fiscal no país piora o nosso prêmio de risco, e aí isso traz pressão para a nossa taxa de câmbio, que é o que a gente está vendo mais recentemente”, aponta Cristiane Quartaroli.

As projeções do Prisma Fiscal, pesquisa de mercado realizada pelo Ministério da Fazenda, indicam que a dívida pública deve se estabilizar entre 2032 e 2033 no patamar de 90% do PIB. Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, acredita que o governo tomará medidas necessárias para um controle maior dos gastos, ajudando a dinâmica fiscal nos próximos anos.

Além dos desafios domésticos, o cenário externo também tende a ficar mais favorável para o Brasil com a expectativa de ao menos um corte dos juros nos EUA ainda este ano, o que deve aliviar parte da pressão sobre os indicadores brasileiros. O último Boletim Focus divulgado pelo Banco Central aponta que o mercado vê o dólar cotado a R$ 5,13 no final deste ano.

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