Bangladesh enfrenta grave crise política com mais de 70 mortos em protestos

Manifestantes durante protesto em Dacca em 3 de agosto de 2024 – AFP
DA REDAÇÃO

Bangladesh atravessa um momento de intensa crise política, com protestos contra o governo de Sheikh Hasina resultando em mais de 70 mortes e 300 feridos apenas neste domingo, 4 de agosto de 2024. A situação no país se deteriora rapidamente, marcando a pior crise enfrentada por Hasina em seus 15 anos de poder.

Os protestos, que tiveram início em junho como uma resposta às cotas de admissão para cargos públicos, consideradas “arbitrárias” pelos manifestantes, rapidamente se transformaram em um movimento antigoverno. As tensões escalaram, e o descontentamento popular culminou em violentos confrontos entre a polícia e os manifestantes. No distrito de Sirajganj, 13 policiais foram mortos, e outros 300 ficaram feridos quando milhares de pessoas atacaram uma delegacia local, conforme relatos das autoridades.

O movimento de protesto, inicialmente focado em questões de emprego, agora assume uma dimensão maior, com manifestantes exigindo a renúncia da primeira-ministra Sheikh Hasina. Os distúrbios se espalharam por diversas regiões do país, incluindo a capital, Daca, e as cidades de Chittagong e Sylhet. No domingo, a praça Shahbagh, no centro de Daca, foi palco de violentos confrontos entre manifestantes armados com pedaços de pau e forças de segurança.

A repressão por parte das autoridades tem sido implacável. No mês de julho, mais de 200 pessoas foram mortas em confrontos com a polícia, muitas delas baleadas durante os protestos. Nos últimos 15 dias, cerca de 10 mil pessoas foram presas, incluindo apoiadores da oposição e estudantes, que se tornaram o núcleo das manifestações. Nahid Islam, um dos líderes estudantis, afirmou que Hasina deveria não apenas renunciar, mas também ser julgada por “assassinatos, saques e corrupção.”

O governo de Bangladesh, em uma tentativa de conter a escalada de violência, impôs um toque de recolher noturno em todo o país, estabelecendo 18h (horário local) como o limite para a circulação de pessoas. Além disso, o acesso à internet em dispositivos móveis foi suspenso temporariamente, em uma aparente tentativa de dificultar a organização dos protestos.

O ministro da Lei e Justiça, Anisul Huq, afirmou em entrevista que o governo tem demonstrado paciência, mas alertou que essa paciência tem limites. Ele sugeriu que, sem a contenção das autoridades, o país poderia ter vivenciado um “banho de sangue” ainda maior. Entretanto, a repressão violenta aos protestos e o número crescente de mortes e prisões estão apenas inflamando as tensões, levando a um ciclo vicioso de violência e repressão.

Os protestos contra o governo de Sheikh Hasina vêm crescendo desde que estudantes começaram a criticar a política de cotas para empregos públicos, que reservava uma significativa quantidade de vagas para parentes de veteranos da guerra de independência de Bangladesh, travada contra o Paquistão em 1971. Embora o governo tenha reduzido essas cotas em resposta às manifestações iniciais, os protestos persistiram e se ampliaram, com os manifestantes agora exigindo justiça pelas mortes e ferimentos ocorridos durante os confrontos.

Sheikh Hasina, que governa Bangladesh desde 2009, venceu as eleições de janeiro de 2024 pela quarta vez consecutiva, mas a votação foi marcada pela ausência de uma oposição significativa, levando a acusações de que o processo eleitoral foi manipulado para garantir sua continuidade no poder. Grupos de defesa dos direitos humanos criticam o governo de Hasina por usar as instituições do Estado para reprimir opositores e se manter no poder, incluindo a prática de execuções extrajudiciais.

À medida que a crise se intensifica, a comunidade internacional começa a prestar mais atenção à situação em Bangladesh, com preocupações crescentes sobre o respeito aos direitos humanos e o estado de direito no país. Com a violência continuando a escalar e as demandas por mudanças no governo ganhando força, o futuro político de Bangladesh permanece incerto, enquanto a pressão sobre o governo de Sheikh Hasina só aumenta.