Páscoa: Origem, Tradições e o Significado Real da Celebração para Judeus e Cristãos

DA REDAÇÃO

A Páscoa é, para muitos, sinônimo de ovos de chocolate, coelhinhos, almoço em família e férias escolares. No entanto, por trás das vitrines repletas de doces e do apelo comercial, a data carrega um dos significados mais profundos da fé judaico-cristã, com origens milenares e simbolismos que vão muito além das tradições contemporâneas.

Celebrada sempre em um domingo, a Páscoa tem significados distintos para judeus e cristãos. Para os cristãos, representa a vitória de Jesus Cristo sobre a morte, sendo considerada a festa mais importante do calendário litúrgico. Já para os judeus, a Páscoa — chamada de Pessach — é a comemoração da libertação do povo hebreu da escravidão no Egito, sob a liderança de Moisés.

Páscoa judaica: liberdade e aliança

A origem da Páscoa remonta ao Antigo Testamento. O livro do Êxodo relata como o povo de Israel, escravizado por faraós egípcios, foi libertado após as dez pragas que se abateram sobre o Egito. A última praga, a morte dos primogênitos, marcou o momento em que Deus ordenou aos hebreus que sacrificassem um cordeiro e marcassem suas portas com o sangue do animal. Assim, o anjo da morte “passaria por cima” das casas dos israelitas — origem do nome Pessach, que significa “passagem”.

A Páscoa judaica é, portanto, uma celebração da liberdade, da vida e da aliança com Deus. É comemorada por meio de um jantar ritual chamado Sêder, que inclui alimentos simbólicos como o cordeiro, o pão sem fermento (matzá) e ervas amargas, cada um representando aspectos da jornada de escravidão e libertação.

Páscoa cristã: a ressurreição de Cristo

Com o surgimento do cristianismo, a Páscoa ganhou novo significado. A celebração passou a remeter à ressurreição de Jesus Cristo, evento central da fé cristã. De acordo com os evangelhos, Jesus foi crucificado, morreu e, ao terceiro dia, ressuscitou, vencendo a morte e oferecendo a humanidade a promessa de vida eterna.

Para os cristãos, a Páscoa é o ápice da chamada Semana Santa, que começa no Domingo de Ramos (entrada triunfal de Jesus em Jerusalém) e passa por momentos marcantes como a Última Ceia (Quinta-feira Santa), a crucificação (Sexta-feira Santa) e culmina com a ressurreição (Domingo de Páscoa). Esse ciclo celebra não só a paixão de Cristo, mas a renovação da fé e da esperança.

A morte e ressurreição de Jesus são vistas como a nova aliança entre Deus e os homens, substituindo o sacrifício do cordeiro pascal pela entrega do próprio Filho de Deus como redenção para a humanidade.

Rituais, tradições e símbolos contemporâneos

Com o passar dos séculos, a Páscoa incorporou elementos culturais e simbólicos diversos. Um dos mais populares é o ovo, que, nas tradições antigas, simbolizava o nascimento e a renovação da vida. Com o cristianismo, esse simbolismo foi associado à ressurreição.

O costume de pintar ovos é anterior ao surgimento dos ovos de chocolate. Era comum em algumas culturas europeias presentear com ovos pintados à mão como forma de desejar vida nova. A tradição foi se transformando, e hoje os ovos de chocolate se tornaram o principal símbolo da Páscoa no imaginário popular.

O coelho da Páscoa também tem raízes simbólicas. Por ser um animal que se reproduz rapidamente, passou a representar a fertilidade e o renascimento, especialmente nas celebrações da primavera no hemisfério norte, período em que ocorre a Páscoa.

Datas móveis e a relação com o calendário lunar

A Páscoa não tem uma data fixa no calendário gregoriano. Sua datação é baseada no calendário lunar judaico e acontece sempre no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre após o equinócio de primavera (no hemisfério norte), que é em 21 de março. Por isso, pode cair entre 22 de março e 25 de abril.

A Igreja estabeleceu esse critério no Concílio de Niceia, em 325 d.C., para padronizar a celebração entre os diferentes povos cristãos, unificando uma das datas mais sagradas da fé cristã.

Significado espiritual: renovação, fé e liberdade

Para além das tradições religiosas e rituais, a Páscoa é, essencialmente, uma celebração de renovação. Para os cristãos, é o renascimento espiritual através da fé em Jesus ressuscitado. Para os judeus, é a renovação da aliança com Deus e da identidade como povo livre.

O simbolismo da vida que renasce, da libertação das opressões (sejam elas espirituais ou físicas), da esperança diante da morte, permanece atual. Em tempos de conflitos, crises e incertezas, a mensagem da Páscoa continua sendo um chamado à fé, à solidariedade e à renovação dos valores humanos.

Muito além do chocolate

A Páscoa, apesar de muitas vezes reduzida a uma celebração comercial, continua sendo um dos momentos mais profundos da experiência religiosa de bilhões de pessoas ao redor do mundo. Seja como celebração da liberdade, no caso do judaísmo, ou como símbolo da ressurreição e da promessa de vida eterna, no cristianismo, o feriado convida à reflexão, à gratidão e à esperança.

Em um mundo marcado por transformações rápidas e desafios coletivos, resgatar o verdadeiro sentido da Páscoa é também um exercício de reconexão com o sagrado, com a história e com a humanidade. Afinal, mais do que ovos ou coelhos, a Páscoa é sobre renascer — e isso é algo que todos precisamos, em algum momento da vida.