Enfermeiro Massimiliano Strappetti: o homem a quem Papa Francisco agradeceu antes de morrer

DA REDAÇÃO

Massimiliano Strappetti, o enfermeiro que acompanhou Papa Francisco até seus últimos instantes

Em seus momentos finais, antes de entrar em coma na madrugada da última segunda-feira (21/4), o Papa Francisco fez um discreto gesto de despedida. Com extrema fragilidade, o pontífice acenou para seu enfermeiro pessoal, Massimiliano Strappetti, numa cena carregada de humanidade, simbolismo e gratidão. Foi para esse profissional, que lhe prestou cuidados diários nos últimos anos, que o Papa dirigiu suas últimas palavras: “Obrigado por me trazer até a praça”.

A frase se referia ao esforço do enfermeiro para que o pontífice pudesse circular de papamóvel pela Praça de São Pedro no Domingo de Páscoa, em uma surpreendente aparição pública apesar de seu delicado estado de saúde. O gesto de gratidão e o aceno silencioso transformaram Strappetti de uma figura discreta em um personagem central das últimas horas de vida do líder católico.

Figura conhecida nos bastidores do Vaticano

Massimiliano Strappetti, de 56 anos, é um nome familiar dentro dos muros da Santa Sé, embora permaneça anônimo para o grande público. Enfermeiro experiente, atuou por muitos anos no departamento de Reanimação do Hospital Policlinico Gemelli, instituição tradicionalmente associada ao atendimento dos pontífices. Posteriormente, passou a integrar a Guarda Médica do Vaticano, onde também cuidou dos papas João Paulo II e Bento XVI.

Strappetti passou a ter uma ligação direta com Francisco em 2021, ao aconselhar o Papa a não adiar uma cirurgia de diverticulite. A decisão salvou a vida do pontífice, que, agradecido, o nomeou seu assistente pessoal de saúde no ano seguinte. Desde então, o enfermeiro se tornou uma sombra silenciosa e constante ao lado de Francisco.

Dedicação ininterrupta até o fim

Durante os últimos 38 dias, Strappetti acompanhou o Papa Francisco em tempo integral, sem pausas ou afastamentos. O pontífice foi internado no final de fevereiro por conta de uma pneumonia bilateral que rapidamente se agravou. Ainda debilitado, resistiu às orientações médicas que recomendavam repouso absoluto e seguiu cumprindo tarefas do cotidiano papal até a véspera de sua morte.

Segundo informações do Vaticano, Strappetti não apenas ofereceu suporte técnico, mas tornou-se um apoio emocional importante. Era ele quem monitorava a pressão arterial, a respiração e os sinais clínicos de Francisco a cada hora. Também era quem o ajudava nas pequenas tarefas cotidianas — da alimentação à mobilidade em cadeira de rodas — e com quem o Papa confidenciava dores, decisões e até momentos de fé silenciosa.

Um enfermeiro devoto e discreto

Casado e torcedor da Lazio, Strappetti vive em Roma e também se dedica a serviços voluntários, embora pouco se saiba sobre sua vida pessoal. A discrição é uma de suas marcas. Mesmo tendo acompanhado três papas, raramente foi fotografado ou entrevistado. Sempre esteve nos bastidores, onde consolidou uma reputação de competência, calma e extrema confiança.

Em diversas ocasiões, Francisco declarou publicamente sua admiração pelos profissionais de enfermagem. Durante a pandemia de Covid-19, chamou-os de “exemplo de humanidade e dedicação”. Em suas memórias, Francisco relatava que havia sobrevivido a uma grave infecção pulmonar na juventude graças à ação decisiva de uma enfermeira. A admiração pela profissão se refletiu claramente na relação com Strappetti.

A última manhã e o gesto silencioso

Na manhã do dia 21 de abril, por volta das 5h30 em Roma, o Papa começou a apresentar sinais de uma “doença súbita”, segundo relato oficial. Logo em seguida, entrou em coma, sem despertar. Segundo o Vaticano, seu último gesto consciente foi um aceno leve a Strappetti, que estava sentado ao lado de sua cama. Pouco antes, teria repetido com voz fraca seu “obrigado”.

Horas depois, o mundo soube do falecimento de Jorge Mario Bergoglio, o primeiro Papa latino-americano da história, aos 88 anos. Mas Strappetti foi o único a testemunhar esse momento final tão íntimo.

Preparativos para o funeral e o papel simbólico do enfermeiro

Na terça-feira (22), o Vaticano divulgou detalhes do funeral do Papa Francisco. A Missa Exequial será celebrada no sábado (26), às 10h no horário local, na Basílica de São Pedro. O caixão com o corpo será trasladado da Capela de Santa Marta para a basílica na quarta-feira (23), e ficará exposto para que fiéis possam prestar homenagens.

Durante as homenagens públicas, espera-se que Strappetti, embora sempre reservado, seja lembrado por seu papel de confiança e afeto. Seu nome aparece em orações feitas por religiosos e fiéis, que destacam o vínculo emocional entre o enfermeiro e o Papa.

Um símbolo de compaixão e cuidado

A história de Massimiliano Strappetti ecoa além dos muros do Vaticano. Representa o elo silencioso entre quem cuida e quem parte. Em tempos em que a profissão de enfermagem luta por valorização, reconhecimento e melhores condições, a dedicação ininterrupta de Strappetti ganha significado global.

Ele não foi apenas o enfermeiro do Papa. Foi seu confidente, guardião e presença constante nos momentos mais frágeis. Seu gesto final — silencioso, mas carregado de emoção — simboliza aquilo que a Igreja tanto prega: o amor no serviço, a dignidade do cuidado, o valor da presença humana nos momentos de dor.

O Papa Francisco se despediu do mundo como viveu: com gestos simples, palavras de agradecimento e atenção aos que estiveram ao seu lado nos bastidores da fé. E entre todos, foi Massimiliano Strappetti quem recebeu o último olhar, o último “obrigado”, o último aceno.

A sua história é, agora, também parte do legado de um dos pontificados mais humanos e compassivos da história da Igreja Católica.