Papa Francisco pede busca pela verdade na Venezuela em meio à crise eleitoral

(crédito: Mario Roberto Durán Ortiz / commons wikimedia)
DA REDAÇÃO

O Papa Francisco fez um apelo enfático neste domingo, 4 de agosto, pela busca da verdade na Venezuela, enquanto o país enfrenta uma crise política após a polêmica reeleição do presidente Nicolás Maduro. Em meio a crescentes denúncias de fraude eleitoral e protestos violentos que resultaram em pelo menos 11 mortes, o Papa instou todas as partes envolvidas a agirem com moderação e a evitarem a violência.

O pedido do pontífice ocorre em um momento de intensa pressão internacional sobre o governo venezuelano. Diversos países da América Latina, Europa e Estados Unidos têm exigido transparência na divulgação dos resultados das eleições presidenciais realizadas em 28 de julho. As eleições, que declararam Maduro como vencedor com 52% dos votos, foram imediatamente contestadas pela oposição, que alegou fraude massiva e divulgou atas que supostamente mostram a vitória do candidato opositor Edmundo González Urrutia com 67% dos votos.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, alinhado ao governo, ainda não divulgou detalhes completos da votação, alegando que o sistema eleitoral foi alvo de um “ataque hacker em massa”. Essa situação tem alimentado a desconfiança e a instabilidade no país, levando a uma escalada nos protestos que já resultaram em milhares de detenções e um crescente número de vítimas fatais.

No sábado, em uma rara aparição pública em Caracas, a líder da oposição María Corina Machado agradeceu a sete países europeus — Alemanha, Espanha, França, Itália, Países Baixos, Polônia e Portugal — por sua exigência de transparência nas eleições venezuelanas. Esses países, em uma declaração conjunta, pediram às autoridades venezuelanas que publiquem todos os registros eleitorais para garantir a “total transparência” do processo.

O apoio internacional à oposição venezuelana também foi reforçado pelos Estados Unidos, que, por meio de declarações de autoridades, afirmaram que há “evidências esmagadoras” de que González Urrutia foi o verdadeiro vencedor das eleições. Além disso, países como Peru, Argentina, Uruguai, Equador, Costa Rica e Panamá reconheceram González Urrutia como o presidente eleito da Venezuela.

Enquanto isso, governos como os do Brasil, Colômbia e México têm buscado promover um acordo político para tentar resolver a crise, adotando uma postura de mediação. Por outro lado, Rússia e China continuam a apoiar o governo de Nicolás Maduro, mantendo sua linha de aliança com o líder chavista.

Em resposta às pressões internacionais e ao crescente descontentamento interno, Maduro tem intensificado sua retórica contra o que chama de tentativa de “usurpar” o poder. Em um discurso para seus apoiadores em frente ao palácio presidencial de Miraflores, o presidente venezuelano comparou a atual situação ao reconhecimento internacional dado ao opositor Juan Guaidó em 2019, quando este foi declarado “presidente interino” por vários países, incluindo os Estados Unidos, após eleições contestadas em 2018.

Maduro classificou González Urrutia como um “Guaidó 2.0”, referindo-se ao episódio em que Guaidó, então chefe do Parlamento venezuelano, foi reconhecido como presidente interino por cerca de 50 governos ao redor do mundo. Naquela ocasião, Guaidó tentou, sem sucesso, mobilizar apoio interno e internacional para depor Maduro, mas acabou exilado nos Estados Unidos.

A atual crise política na Venezuela não mostra sinais de arrefecimento. María Corina Machado, que havia sido impedida pela justiça de concorrer nas eleições, tem liderado as manifestações oposicionistas com discursos inflamados e desafiadores. Durante a manifestação de sábado, Machado reafirmou seu compromisso com a luta contra o governo de Maduro, afirmando que “não vamos deixar as ruas”.

O cenário na Venezuela continua a ser de alta tensão, com manifestações constantes e uma crescente pressão internacional para que se alcance uma solução pacífica e democrática para a crise. O apelo do Papa Francisco pela busca da verdade e pela resolução pacífica dos conflitos destaca a gravidade da situação e a necessidade urgente de diálogo entre as partes envolvidas, visando o bem-estar da população e a estabilidade do país.