A Oracle, uma veterana no setor de tecnologia com 47 anos de história, passou por uma impressionante reviravolta ao se tornar um dos nomes mais relevantes na corrida global pela inteligência artificial (IA). Após perder a liderança no mercado de computação em nuvem, a empresa encontrou uma nova oportunidade de crescimento ao se posicionar como uma das principais fornecedoras de infraestrutura para o desenvolvimento e treinamento de IA, em um momento de demanda explosiva.
Essa transformação começou a ganhar forma nos últimos anos, e os resultados são evidentes. As ações da Oracle subiram mais de 40% apenas em 2024, comparadas a um crescimento de 11% no índice Nasdaq. A empresa já está entre as 20 maiores dos Estados Unidos, com um valor de mercado estimado em US$ 433 bilhões. Somente na última terça-feira (10), os papéis da Oracle tiveram uma valorização superior a 12%, impulsionados pelos resultados positivos do primeiro trimestre, quando a receita com infraestrutura de nuvem para IA saltou 45% em relação ao ano anterior, atingindo US$ 2,2 bilhões.
Essa revitalização da Oracle, antes vista como uma empresa que havia perdido espaço na corrida tecnológica, é fruto de uma estratégia bem definida em duas frentes principais.
Uma Vantagem de Retardatário
A Oracle chegou tarde ao mercado de computação em nuvem, perdendo terreno para empresas como Amazon Web Services (AWS), Microsoft Azure e Google Cloud. No entanto, isso permitiu que a companhia construísse uma infraestrutura mais moderna e voltada para as demandas específicas do treinamento de modelos de IA. Atualmente, a Oracle possui 162 data centers distribuídos pelo mundo, projetados para oferecer o desempenho de computação necessário para rodar aplicações intensivas de IA.
O fato de ter investido em uma infraestrutura robusta, que foi amortizada ao longo dos anos, permitiu que a Oracle se posicionasse como uma opção competitiva e atraente para empresas que buscam alta performance em suas operações de IA. Entre os clientes, estão grandes nomes como OpenAI, xAI (empresa de Elon Musk), Mistral AI e Anthropic, todos parceiros estratégicos que enxergam a Oracle como uma empresa neutra, focada em fornecer serviços sem ser uma concorrente direta no desenvolvimento de IA.
Essa neutralidade abriu portas para a Oracle firmar parcerias até com concorrentes na área de nuvem. Empresas como Microsoft, Google e Amazon permitem que os bancos de dados da Oracle rodem em suas plataformas de nuvem, enquanto a Microsoft, por exemplo, usa a infraestrutura da Oracle para rodar o chatbot Bing, equipado com IA.
Soluções Funcionais e Clara Estratégia
Um dos diferenciais da Oracle em relação a outros gigantes da nuvem, como Amazon e Google, é sua abordagem direta e clara. A empresa oferece exatamente o que os clientes precisam: infraestrutura de alta performance para IA, sem empurrar serviços adicionais ou tecnologias experimentais. Essa abordagem mais focada e simplificada atrai empresas que preferem uma solução clara e eficiente para suas necessidades.
Em contraste, outras empresas de nuvem, como a AWS, frequentemente tentam vender pacotes adicionais de serviços e chips proprietários, o que pode não ser do interesse de clientes que buscam um ambiente flexível e adaptável.
O Papel Central de Larry Ellison
Por trás dessa reviravolta está Larry Ellison, o icônico cofundador da Oracle, que aos 80 anos continua a ser a principal força por trás da estratégia da empresa. Ellison, que ocupa o cargo de diretor de tecnologia e chairman, foi fundamental para fechar parcerias de peso com grandes líderes da IA, como Elon Musk e Jensen Huang, CEO da Nvidia.
A Oracle não apenas hospeda a oferta de nuvem da Nvidia, mas também fornece as unidades de processamento gráfico (GPUs) de última geração, essenciais para o treinamento de modelos de IA. Em um mercado onde há escassez de GPUs, essa parceria posiciona a Oracle em uma posição privilegiada, capaz de fornecer recursos críticos para a expansão da IA.
Desafios e Perspectivas
No entanto, a principal questão que se coloca agora é se esse crescimento da Oracle será sustentável a longo prazo. Embora a empresa tenha captado grandes clientes e projetado um aumento significativo na demanda por sua infraestrutura, o futuro pode reservar desafios, especialmente com a construção de data centers próprios por grandes empresas, como a xAI de Musk.
Isso significa que, uma vez que os modelos de IA estejam treinados, eles poderão ser executados em outras infraestruturas de nuvem, diminuindo a demanda pelos serviços da Oracle. Para mitigar esse risco, a empresa está apostando em uma nova geração de clientes, especialmente startups de IA, que se beneficiarão de suas soluções de banco de dados e infraestrutura.
O desafio futuro será competir com os recursos praticamente ilimitados de gigantes como Microsoft e Amazon, que possuem capacidades financeiras e tecnológicas incomparáveis.
