Após Crise Diplomática, Israel Busca Restaurar Relações com o Brasil

DA REDAÇÃO

Depois de meses de tensões diplomáticas e uma crise que afetou as relações bilaterais, o governo de Israel sinalizou sua intenção de restaurar uma relação mais positiva com o Brasil. A crise teve início no início de 2024, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez declarações comparando as ações israelenses na Faixa de Gaza ao Holocausto, o que gerou uma reação veemente de Tel Aviv e resultou na retirada do embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, em maio deste ano.

Agora, em um esforço para recompor as relações e restaurar a cooperação mútua, Israel está tomando medidas diplomáticas para tentar reverter o impasse. O governo de Benjamin Netanyahu indicou o vice-diretor geral do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Mattanya Cohen, para liderar as articulações políticas com o Brasil, com o objetivo de restabelecer um canal de diálogo entre os dois países. Cohen, que também é chefe da divisão da América Latina e Caribe, foi acompanhado pelo embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, para uma visita à Câmara dos Deputados do Brasil.

A Reunião com a Câmara dos Deputados

No dia 27 de novembro, Mattanya Cohen se reuniu com o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, deputado Lucas Redecker (PSDB), e com a vice-presidente do grupo de Amizade Brasil-Israel, deputada Greyce Elias (Avante), para discutir formas de reaproximar os dois países. Durante a reunião, Cohen expressou otimismo sobre a possibilidade de recomposição das relações. Ele afirmou que o Brasil é o principal parceiro comercial de Israel na América Latina e destacou o carinho e a admiração que os israelenses têm pelo Brasil.

Cohen ainda mencionou o recente cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah, como uma possibilidade para criar um ambiente mais favorável à restauração das relações bilaterais. Segundo o diplomata, a trégua abre uma janela para que o Brasil considere o retorno de um embaixador brasileiro em Tel Aviv, o que representaria um passo simbólico importante para superar a crise diplomática.

A Repercussão das Declarações de Lula

A tensão diplomática entre Israel e Brasil se intensificou em fevereiro deste ano, quando o presidente Lula fez declarações fortes sobre a situação em Gaza, comparando a ofensiva israelense ao Holocausto. As palavras de Lula geraram uma reação rápida e agressiva por parte do governo de Netanyahu, que classificou o presidente brasileiro como “persona non grata”. Além disso, o governo israelense exigiu que o embaixador brasileiro, Frederico Meyer, pedisse desculpas formalmente em uma cerimônia no Museu do Holocausto, o que não ocorreu.

A comparação feita por Lula foi vista por muitos em Israel como uma ofensa grave, especialmente em um momento de escalada do conflito entre Israel e grupos militantes palestinos, o que levou a um endurecimento da postura de Tel Aviv em relação ao Brasil. A retirada do embaixador brasileiro foi um reflexo direto dessa crise, com a representação diplomática brasileira em Israel reduzida a um nível inferior, sem um chefe de missão de primeiro escalão.

O Esforço de Reaproximação

Apesar da dureza das declarações iniciais, a diplomacia israelense não abandonou totalmente a busca por uma reconciliação. Nos últimos meses, o governo de Netanyahu tem procurado, com mais cautela, restaurar a cooperação com o Brasil, um parceiro estratégico na América Latina. A visita de Cohen e Zonshine ao Brasil foi uma tentativa clara de sinalizar a disposição israelense de superar as diferenças e reconstruir os laços, especialmente em uma época de desafios geopolíticos globais.

O Brasil, por sua vez, tem demonstrado abertura para um reatamento das relações, embora mantendo uma postura firme em relação à defesa de sua posição sobre o conflito em Gaza. O governo de Lula tem reiterado a importância de uma política externa que se baseie em princípios de paz, direitos humanos e respeito às soberanias, algo que tem gerado algumas divergências em relação a Israel, mas também a outros países que desempenham papéis importantes no cenário internacional.

Impacto nas Relações Comerciais

A crise diplomática também afetou as relações comerciais entre os dois países. Israel é um dos principais parceiros comerciais do Brasil no Oriente Médio, especialmente em áreas como tecnologia, defesa, agricultura e turismo. A continuidade dessa parceria é considerada vital para ambos os países, mas a interrupção das atividades diplomáticas, incluindo a retirada do embaixador, causou um impacto negativo no comércio bilateral, com uma redução no número de acordos firmados nos últimos meses.

Com o reatamento das relações, espera-se que Israel e Brasil possam retomar negociações para expandir sua cooperação econômica, especialmente nas áreas de inovação tecnológica e comércio de produtos agrícolas. A retomada do diálogo político entre os dois países também pode abrir portas para novos investimentos e oportunidades de colaboração em outras áreas de interesse mútuo.

O Papel da Comissão Europeia

Porém, apesar dos esforços de reconciliação por parte de Israel, a crise diplomática com o Brasil não se limita apenas a questões bilaterais. Ela também envolve as tensões internas dentro da União Europeia, especialmente com o crescente apoio do Brasil ao acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE, que está sendo negociado. A resistência de países como a França ao acordo, com protestos contra a carne brasileira e outros produtos agrícolas do Mercosul, também tem implicações para as relações de Israel com o Brasil, que tenta equilibrar suas alianças no cenário internacional.