Incêndios causam prejuízo de R$ 14,7 bilhões ao agronegócio brasileiro, com São Paulo liderando as perdas

DA REDAÇÃO

Os incêndios florestais que atingiram o Brasil entre os meses de junho e agosto de 2024 trouxeram enormes prejuízos ao setor do agronegócio, com uma estimativa de R$ 14,7 bilhões em danos. O levantamento, realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), aponta que cerca de 2,8 milhões de hectares de propriedades rurais foram devastados pelas chamas, afetando drasticamente a produção de bovinos de corte, cana-de-açúcar e a qualidade do solo em diversas regiões do país.

De acordo com o relatório divulgado, o setor de pecuária e pastagens foi o mais afetado, com perdas significativas que totalizam R$ 8,1 bilhões. O impacto foi devastador não apenas pela destruição direta das áreas de pasto, mas também pela perda de animais e o comprometimento das instalações voltadas para o manejo pecuário. Além disso, as cercas, fundamentais para o confinamento e separação dos animais nas fazendas, foram duramente atingidas, resultando em prejuízos de R$ 2,8 bilhões.

A cana-de-açúcar, um dos principais produtos agrícolas do Brasil, também sofreu graves danos. As plantações atingidas pelos incêndios somaram perdas de R$ 2,7 bilhões, com impactos que vão além da colheita imediata. A degradação do solo e a destruição de áreas cultiváveis podem comprometer futuras safras, aumentando os desafios para os produtores nas próximas temporadas. Outras culturas temporárias e permanentes somam, juntas, um prejuízo de R$ 1,068 bilhão.

São Paulo lidera as perdas

Entre os estados mais prejudicados pelos incêndios, São Paulo lidera com um prejuízo de R$ 2,8 bilhões. Conhecido por ser um dos maiores polos do agronegócio no país, São Paulo sofreu impactos severos em suas produções de cana-de-açúcar, além de pastagens e cercas. Logo em seguida, Mato Grosso, Pará e Mato Grosso do Sul também aparecem entre os estados mais atingidos, com perdas de R$ 2,3 bilhões, R$ 2 bilhões e R$ 1,4 bilhão, respectivamente.

Esses estados, conhecidos por sua forte produção agrícola e pecuária, enfrentam agora o desafio de recuperar suas áreas produtivas, enquanto os efeitos das queimadas também afetam a economia local e a segurança alimentar. A destruição de infraestruturas, como armazéns e sistemas de irrigação, também contribuiu para aumentar os custos de recuperação.

Medidas emergenciais e o crédito RenovAgro

Em resposta à gravidade dos incêndios, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) anunciou uma ampliação do crédito do RenovAgro, uma linha de financiamento destinada à recuperação de áreas degradadas. Essa medida, autorizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem o objetivo de proporcionar suporte emergencial aos produtores rurais afetados, oferecendo acesso facilitado a recursos com taxas de juros reduzidas e prazos mais longos para pagamento.

O ministro Carlos Fávaro destacou que o crédito será disponibilizado para todos os produtores que tiveram suas terras atingidas pelas queimadas, com exceção daqueles que provocaram os incêndios de maneira deliberada em suas próprias propriedades. “É uma medida para ajudar quem realmente precisa, mas quem cometeu crime ambiental será responsabilizado”, declarou Fávaro.

Embora o crédito esteja programado para ser oferecido por todos os bancos a partir de outubro, algumas instituições financeiras já começaram a disponibilizar o recurso em caráter emergencial, visando acelerar o processo de recuperação das áreas atingidas. Essa linha de crédito permitirá que os produtores invistam na recuperação do solo, replantio e infraestrutura, buscando minimizar os danos e evitar que as próximas safras sejam comprometidas.

Impactos ambientais e econômicos

Os incêndios florestais não só afetam a produção agropecuária, mas também têm um impacto profundo no meio ambiente e na economia do Brasil. A destruição de grandes áreas de vegetação contribui para o aumento das emissões de gases de efeito estufa, agravando ainda mais a crise climática. Além disso, a qualidade do solo é deteriorada, o que pode levar anos para ser restaurada adequadamente, prejudicando o ciclo de produção agrícola.

O Brasil, um dos maiores exportadores de commodities agrícolas do mundo, enfrenta o desafio de manter a competitividade no mercado internacional enquanto lida com as consequências dos incêndios. A recuperação dessas áreas afetadas demandará um esforço coordenado entre o governo e o setor privado, além de investimentos substanciais em tecnologias de recuperação de solo e reflorestamento.

No entanto, a dimensão dos incêndios e seus impactos econômicos demonstram a vulnerabilidade do agronegócio brasileiro diante de desastres ambientais. A seca severa e as temperaturas elevadas, impulsionadas por fenômenos como o El Niño, contribuíram para a propagação rápida das chamas, expondo as limitações das medidas preventivas adotadas até agora. Nesse sentido, especialistas alertam para a necessidade de políticas públicas mais eficazes para prevenir futuros incêndios e proteger o setor agrícola.

Perspectivas para o futuro

Diante da crescente frequência de eventos climáticos extremos e a intensidade das queimadas, o agronegócio brasileiro precisará se adaptar a uma nova realidade. Investir em práticas sustentáveis, como a recuperação de áreas degradadas e o manejo sustentável de pastagens, será essencial para garantir a longevidade do setor.

Além disso, a implementação de novas tecnologias para monitorar e prevenir incêndios florestais se tornará cada vez mais importante. Sistemas de alerta precoce, que utilizam satélites e sensores para detectar focos de incêndio, podem auxiliar na resposta rápida e eficaz às queimadas, evitando que os danos se alastrem.

Por outro lado, a cooperação entre governos e o setor privado será essencial para garantir que os produtores tenham acesso a recursos financeiros e tecnológicos que lhes permitam se adaptar às mudanças climáticas. A ampliação de linhas de crédito, como o RenovAgro, é um passo positivo, mas é necessário que esse tipo de iniciativa seja contínuo e alcance todos os produtores, especialmente os de pequeno e médio porte, que são os mais vulneráveis aos impactos das queimadas.

O agronegócio brasileiro, uma das forças econômicas do país, tem a oportunidade de se reinventar e adotar práticas mais resilientes, enfrentando os desafios impostos pelo clima e preservando a sustentabilidade de suas atividades para as futuras gerações.