
Milhares de pessoas se reuniram na manhã deste sábado (26), na Praça de São Pedro, no Vaticano, para o último adeus ao Papa Francisco, que faleceu aos 88 anos após sofrer um derrame. Entre os presentes estavam chefes de Estado, membros da realeza, cardeais, líderes religiosos e fiéis de todas as partes do mundo. O funeral marcou não apenas o fim de um pontificado de 12 anos, mas também o início de uma nova fase decisiva para o futuro da Igreja Católica.
Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, argentino de origem humilde e o primeiro papa latino-americano da história, redefiniu o papel do pontífice com uma abordagem pastoral mais próxima das periferias sociais e existenciais. Em seu testamento espiritual e gestos concretos, priorizou o cuidado com migrantes, o combate às desigualdades, a defesa do meio ambiente e o enfrentamento aos abusos na Igreja — bandeiras que ecoaram profundamente na missa presidida pelo cardeal italiano Giovanni Battista Re.
A celebração foi pontuada por aplausos espontâneos, especialmente quando o cardeal destacou que “o legado de Francisco não pode morrer com ele”. O tom da cerimônia foi sóbrio, mas permeado por emoção e reconhecimento da importância histórica do pontificado. Entre os momentos mais marcantes, os aplausos do povo ao final da missa ecoaram em uníssono com o toque dos sinos do Vaticano, enquanto o caixão de madeira simples, de acordo com o desejo do papa, era erguido pelos sediários pontifícios e conduzido pelo papamóvel até a Basílica de Santa Maria Maggiore.
O gesto final de Francisco foi coerente com sua vida: recusou a tradicional cripta da Basílica de São Pedro e escolheu ser sepultado em Santa Maria Maggiore, onde costumava rezar antes de viagens apostólicas. Ali, em um lugar mais acessível aos fiéis, seu corpo repousará — um símbolo claro de que sua liderança não era feita de privilégios, mas de presença e empatia.
Dentre os presentes, chamou atenção a figura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que mesmo tendo protagonizado diversos embates públicos com Francisco ao longo dos anos, compareceu ao funeral. Do outro lado, estavam os cardeais que em breve decidirão o futuro da Igreja. Essa composição contrastante refletiu o principal dilema que paira sobre o conclave marcado para começar no dia 7 de maio: seguir o espírito reformador de Francisco ou retornar a uma postura mais tradicionalista.
Durante o cortejo pelas ruas de Roma, o clamor popular contrastava com a solenidade do Vaticano. Cartazes com frases de gratidão, bandeiras de diversos países e orações sussurradas compunham o cenário de um adeus coletivo. A voz de uma mulher na multidão — “Obrigada, obrigada, obrigada!” — soou como o eco de milhões que, direta ou indiretamente, foram tocados pelas ações e palavras do pontífice.
O pontificado de Francisco foi marcado por momentos decisivos, como a encíclica Laudato Si’, em que assumiu postura contundente sobre a crise climática, e sua firme posição contra a cultura do descarte, sempre defendendo os mais vulneráveis. Não por acaso, temas como imigração, justiça social, ecologia e inclusão ganharam espaço inédito no discurso oficial da Igreja durante sua gestão.
A última imagem pública de Francisco, ainda em vida, foi durante a celebração da Páscoa, quando fez um apelo vigoroso aos líderes mundiais “para que não cedam à lógica do medo”, clamando por ações que aliviem o sofrimento humano e promovam a dignidade. Mesmo já debilitado por uma pneumonia severa, que o deixou internado por mais de um mês, ele não deixou de ocupar a Praça de São Pedro, no que seria sua despedida silenciosa.
Agora, resta à Igreja a tarefa de escolher um sucessor à altura do legado de Francisco. O conclave se aproxima e, com ele, a responsabilidade de manter acesa a chama de um papado que transformou a maneira como a fé dialoga com o mundo. Mais do que um novo pontífice, o que está em jogo é a continuidade de um projeto de Igreja mais inclusiva, humilde e comprometida com os dramas do tempo presente.
O funeral de Francisco foi, portanto, mais do que uma cerimônia religiosa. Foi um manifesto coletivo em favor de um papa que fez questão de lembrar, todos os dias, que a Igreja precisa estar com os pobres, com os migrantes, com a Terra, com as vítimas e com quem não tem voz. E que, mesmo ausente fisicamente, ele permanece como farol para os novos tempos.