Fumaça de queimadas na Amazônia e Pantanal alcança o Sudeste e Sul do Brasil, ameaçando a qualidade do ar em dez estados

(Chico Ribeiro /Governo MT/Divulgação)
DA REDAÇÃO

A fumaça proveniente das queimadas na Amazônia e no Pantanal se espalhou por pelo menos dez estados brasileiros desde o último sábado, 17 de agosto. O fenômeno atmosférico tem causado preocupação não só nas regiões onde as queimadas são mais intensas, como no Norte e Centro-Oeste, mas também em áreas mais distantes, incluindo estados do Sul e Sudeste, como São Paulo e Rio de Janeiro. A previsão é de que a situação persista até a próxima sexta-feira, 23, quando a chegada de uma frente fria poderá ajudar a dissipar a fumaça.

O Serviço de Monitoramento Atmosférico da Europa destacou que as cidades mais afetadas pela névoa fora da região amazônica estão no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Essas áreas experimentaram uma densa camada de fumaça nos últimos dias, comprometendo a qualidade do ar e reduzindo a visibilidade em várias cidades.

O corredor de ar que transporta a fumaça do Norte ao Sul é impulsionado pela onda de calor que atualmente assola grande parte do Brasil. A combinação de altas temperaturas com a baixa umidade facilita a concentração de partículas de monóxido de carbono e dióxido de nitrogênio, substâncias poluentes que, embora percam parte de seu potencial nocivo ao longo do caminho, ainda representam um risco significativo à saúde, especialmente para idosos, crianças e pessoas com problemas respiratórios.

No Rio de Janeiro, a fumaça foi notada principalmente no final da tarde de domingo, 18, com uma névoa que se instalou sobre a cidade. Em São Paulo, a situação foi similar, mas com menor intensidade. Já em Porto Alegre, a capital do Rio Grande do Sul, uma camada cinza densa cobriu o céu nos últimos dias, causando preocupações entre os moradores e as autoridades locais.

Henrique Bernini, pesquisador de sensoriamento remoto, explicou que a presença da fumaça em regiões tão distantes da origem dos incêndios é um indicativo da gravidade da situação na Amazônia e no Pantanal. Segundo ele, atualmente, há mais de 400 focos de incêndio significativos nas proximidades das rodovias BR-163 e BR-230, além de outros focos importantes na região de Porto Velho (RO). No Pantanal, embora os focos sejam menos numerosos, a intensidade do fogo em áreas concentradas também contribui para a situação crítica.

Além dos danos à saúde, a liberação de gases de efeito estufa, como o monóxido de carbono (CO), acelera o aquecimento global, tornando as florestas mais suscetíveis a novos incêndios. Especialistas alertam que essa situação cria um ciclo vicioso, onde as queimadas intensificam o aquecimento global, que por sua vez aumenta a frequência e a gravidade dos incêndios.

De acordo com imagens de satélite do programa europeu Copernicus, há uma enorme quantidade de fumaça cobrindo grande parte da América do Sul. As imagens mostram a fumaça proveniente tanto da Amazônia quanto do Pantanal, sendo transportada pelo corredor de ar em direção ao Sul e Sudeste do Brasil.

As queimadas na Amazônia atingiram níveis recordes em julho deste ano, com 11.145 focos registrados, o maior número para o mês desde 2005. O aumento de 93% em relação ao ano anterior e de 111% em relação à média dos últimos dez anos é alarmante, especialmente considerando que metade desses focos ocorreu nos últimos oito dias de julho. Os estados mais afetados são Amazonas e Pará, que também lideram em alertas de desmatamento.

A situação no Pantanal também é crítica, com incêndios intensos se espalhando pelo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A combinação de altas temperaturas e baixa umidade está criando as condições perfeitas para a propagação do fogo, colocando em risco a fauna e a flora da região, além de impactar a saúde da população local.

A resposta do governo federal tem sido considerada insuficiente por muitos especialistas e organizações ambientais. Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha visitado o Pantanal na semana passada para avaliar a situação, as medidas adotadas até agora não foram suficientes para conter os incêndios. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 4.696 focos de incêndio no Pantanal entre janeiro e julho de 2024, um aumento de 11% em relação ao mesmo período de 2020, durante a gestão de Jair Bolsonaro.

Atualmente, 890 profissionais do governo federal, incluindo membros das Forças Armadas, Ibama, ICMBio, Força Nacional de Segurança Pública e Polícia Federal, estão envolvidos no combate aos incêndios. Além disso, 15 aeronaves e 33 embarcações estão sendo utilizadas nas operações, que também contam com um aporte de R$ 137 milhões em créditos extraordinários.

No entanto, apesar desses esforços, o desafio permanece gigantesco. A complexidade e a escala dos incêndios, combinadas com as condições climáticas adversas, continuam a dificultar o combate às queimadas e a proteção dos biomas brasileiros.

Com o avanço das queimadas e a previsão de continuidade das altas temperaturas, o país enfrenta um cenário preocupante que requer ações urgentes e coordenadas. A preservação da Amazônia e do Pantanal é crucial não apenas para o Brasil, mas para o equilíbrio climático global, tornando imperativo o reforço das políticas de combate ao desmatamento e às queimadas.

As próximas semanas serão decisivas para determinar se as medidas adotadas serão suficientes para conter a destruição ou se o Brasil continuará a enfrentar uma das piores crises ambientais de sua história recente.