
A Espanha, um dos principais centros agroalimentares da União Europeia (UE), sinalizou confiança e otimismo diante da possibilidade de um acordo comercial com o Mercosul, bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Em declarações divulgadas nesta segunda-feira, 9, o ministro da Agricultura, Pesca e Alimentação espanhol, Luis Planas, garantiu não haver motivos para temer o tratado, ressaltando o status da Espanha como potência agroalimentar e destacando as vantagens que o pacto pode trazer, especialmente para segmentos como azeite de oliva, vinho, carne suína e frutas cítricas.
As afirmações do ministro espanhol rompem com a imagem de apreensão que costuma acompanhar a assinatura de acordos comerciais desse tipo. Enquanto setores produtivos em alguns países da UE reagem com cautela, temendo a concorrência de produtos do Mercosul, Planas sublinha que o histórico espanhol em acordos internacionais de comércio agroalimentar é positivo, trazendo ganhos em exportações e acesso a novos mercados. Segundo o ministro, a Espanha não precisa temer a abertura econômica, pois tem apresentados resultados notáveis sempre que novos tratados entram em vigor.
Na visão de Planas, há um excesso de “mitologia” em torno do Mercosul e sua suposta capacidade de inundar o mercado europeu com produtos a preços mais baixos. O ministro recorda que outros acordos, antes de vistos com desconfiança, acabaram por favorecer a Espanha. O pacto entre a UE e o Canadá, por exemplo, fez com que as vendas agroalimentares espanholas triplicassem, enquanto a parceria com o Japão quadruplicou as exportações. Ao destacar esses resultados, Planas mostra confiança de que a abertura ao Mercosul pode trazer benefícios semelhantes, sem comprometer a qualidade ou a competitividade do setor nacional.
O ministro ressaltou a necessidade de um “equilíbrio” em tais acordos, algo que, em sua visão, o tratado com o Mercosul já contempla. Ele considera que se trata de um entendimento equilibrado no contexto global e também no setor agroalimentar. Além disso, a Planas valoriza a proteção das restrições geográficas de qualidade, que protegem os nomes de produtos alimentícios regionais, um ponto sensível nessas negociações, garantindo que a UE mantenha suas normas sobre rotulagem, origem e segurança alimentar.
Otimismo à parte, Planos regulares que há quem se preocupe, sobretudo no meio agrícola francês. Recentemente, setores da agricultura em países como França, Áustria e Irlanda têm se mostrado reticentes quanto ao acordo, apontando o risco de entrada de produtos do Mercosul, principalmente carnes e commodities, que competem com os produtores europeus. Contudo, o ministro espanhol não acredita em protestos em larga escala por parte de agricultores espanhóis. Ele insiste que muitas preocupações surgem por falta de informação ou em razão de mitos construídos antes que os detalhes do acordo sejam devidamente desenvolvidos.
Em paralelo à confiança espanhola, há uma dinâmica política complexa na UE. França e Alemanha, dois motores econômicos do bloco, já levantaram reservas em relação ao acordo, que leva mais de duas décadas de negociações. Enquanto a Espanha exalta as oportunidades, outros parceiros ainda pesam os riscos. Mesmo assim, o ministro espanhol não mostra desânimo, falando ter plena consciência das dívidas internas, mas confiante de que a transparência, a clareza e os ganhos potenciais podem persuadir os céticos.
Do outro lado, no Mercosul, as expectativas também são altas. O Brasil, por exemplo, não vê nenhum acordo uma chance de diversificar suas exportações, ultrapassando as amarras do dólar e investindo em mecanismos de liquidação em moedas locais. Sob a presidência do Brasil no bloco, há um esforço para transferência de meios de pagamento alternativos e ampliar a atuação do Novo Banco de Desenvolvimento, reforçando a cooperação e a redução da dependência do dólar nas transações internacionais.
A conjuntura geopolítica atual também coloca o acordo UE-Mercosul em evidência. A elevação de tensão comercial global e o realinhamento de poderes comerciais tornam um tratado desse porte ainda mais significativo. Para a Espanha, que já demonstrou sua força no setor agroalimentar, o pacto pode não apenas fortalecer suas exportações, mas também ampliar o horizonte de parceiros, mercados e insumos, garantindo melhor posicionamento no comércio internacional.
Os planos enfatizam a possibilidade de ajustar o acordo caso surjam problemas na prática. Como cláusulas de segurança, por exemplo, permitimos que a UE reaja rapidamente se uma sobrecarga de prejuízos prejudicar seriamente o mercado interno. Essa segurança não é mera retórica: no passado, já foi aplicada à carne bovina do Mercosul. Tal instrumento garante ao bloco europeu uma margem de manobra para lidar com distorções, mantendo a proteção aos agricultores sem renunciar às vantagens da abertura.
A mensagem do ministro espanhol é clara: enquanto alguns têm a competição externa, a Espanha enxerga oportunidade. Essa abordagem confiável na capacidade dos produtores espanhóis de competir de igual para igual, aproveitando a demanda que o Mercosul pode estimular por produtos de alta qualidade, como azeites e vinhos, em mercados onde a classe média ascendente busca produtos diferenciados.
Ao final, o debate não se limita ao setor agroalimentar. O acordo UE-Mercosul é também uma questão estratégica, refletindo a necessidade da Europa de diversificar parcerias, criar pontes comerciais e evitar um isolamento que poderia ser prejudicial em um contexto internacional no qual potências disputam influência e mercados.
A confiança de Planas sinaliza que a Espanha está disposta a trabalhar internamente e dialogar com os setores agrícolas para sanar dúvidas, preservando as normas de qualidade e construção de valor no produto nacional. Ao mesmo tempo, o país busca convencer seus parceiros europeus de que o mundo não se reduz a protecionismos inflexíveis e que, ao invés de olhar o outro como ameaça, é possível identificar caminhos para o benefício mútuo.
Assim, a postura espanhola diante do acordo UE-Mercosul destaca um momento de inflexão na política europeia. Com habilidade, bons argumentos e casos de sucesso em acordos anteriores, a Espanha se posiciona como defensora da abertura comercial inteligente, do diálogo e da capacidade de adaptação. Caso essa visão prevaleça, o pacto poderá consolidar a UE como um ator global mais coeso e resiliente, ao mesmo tempo que oferece novos horizontes a uma economia agroalimentar europeia que precisa enfrentar os desafios do futuro com otimismo e pragmatismo.