Elon Musk deixa cargo especial no governo Trump antes do previsto, após atritos e críticas a tarifas

DA REDAÇÃO

Elon Musk oficializou nesta quarta-feira (28) sua saída do governo Trump, encerrando de forma antecipada sua atuação como conselheiro especial e líder do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). O bilionário, que poderia permanecer no cargo até a próxima sexta-feira (30) por força de lei, antecipou a despedida em meio a um clima de tensão política e divergências com a administração do ex-presidente.

A saída, embora prevista para o final da semana, foi marcada pela falta de diálogo entre Musk e Trump no momento do desligamento. De acordo com fontes ouvidas pela agência Reuters, Musk preferiu não conversar com o ex-presidente antes de oficializar sua saída. No X (antigo Twitter), Musk divulgou uma breve mensagem de despedida, em tom protocolar, expressando gratidão pela oportunidade de colaborar com o governo: “À medida que meu período como Funcionário Especial do Governo chega ao fim, gostaria de agradecer ao Presidente Trump pela oportunidade”.

A breve estadia de Musk no governo começou em janeiro, em meio a expectativas elevadas sobre seu papel no Departamento de Eficiência Governamental. Segundo o próprio Musk declarou no início de abril, sua principal meta era contribuir para a redução do déficit federal em US$ 1 trilhão, uma missão que, em suas palavras, já estaria em fase avançada de cumprimento. “Acho que teremos realizado a maior parte do trabalho necessário para reduzir o déficit em US$ 1 trilhão dentro desse prazo”, comentou Musk, demonstrando satisfação com os avanços no período de quatro meses em Washington.

No entanto, desde o início de seu mandato especial, Musk tornou-se alvo de controvérsias e desconforto entre membros do governo Trump e aliados externos. A relação entre o bilionário e a Casa Branca foi marcada por divergências em temas centrais, como as tarifas sobre produtos importados. Em abril, Musk utilizou o X para criticar abertamente Peter Navarro, assessor de Trump e principal arquiteto das medidas tarifárias. Em uma postagem, Musk questionou a formação acadêmica de Navarro, dizendo que “um PhD em Economia por Harvard é uma coisa ruim, não uma coisa boa”.

O “The Washington Post” apurou que Musk tentou, por diversas vezes, intervir diretamente na política tarifária do governo durante conversas com o então presidente. Como CEO da Tesla, Musk avaliava que as tarifas poderiam trazer prejuízos consideráveis à empresa, especialmente nos negócios com a China e os Estados Unidos, principais mercados da montadora. Para ele, as medidas de Trump significavam um obstáculo à expansão global e um risco ao equilíbrio das fábricas da Tesla, que dependem fortemente de exportações e importações entre as duas potências econômicas.

As críticas não partiram apenas de Musk. Seu irmão, Kimbal Musk, também se manifestou nas redes sociais para condenar a política tarifária do governo Trump, afirmando que a medida resultaria em um “imposto estrutural e permanente sobre o consumidor americano”. Essa avaliação reforçou a percepção de que as divergências de Musk iam além de questões técnicas, envolvendo também valores e visões sobre a economia global.

Analistas políticos avaliam que a presença de Musk no governo Trump era vista com desconfiança por parte de alguns setores do Partido Republicano. Apesar do carisma e da aura de inovação que Musk projeta, seu estilo provocador e crítico não se alinhava plenamente ao discurso oficialista da Casa Branca. Essa postura independente, que o levou a questionar abertamente medidas de governo, acabou gerando desconforto e tensões internas.

Para a equipe de Trump, a saída de Musk antes do término oficial de seu mandato especial representa um alívio em um momento de alta sensibilidade política, em que o ex-presidente tenta consolidar alianças visando um novo ciclo eleitoral. Com a despedida do bilionário, o governo elimina um foco de atrito que ameaçava ofuscar outras agendas prioritárias.

Por outro lado, Musk sai do governo com a sensação de ter mantido sua postura firme e independente, ainda que isso tenha lhe custado a cadeira de conselheiro. Para seus apoiadores, a breve passagem pelo Departamento de Eficiência Governamental reforça a imagem de Musk como uma voz crítica e inovadora, que não hesita em confrontar decisões de governo quando as considera injustas ou prejudiciais aos negócios e à economia.

Enquanto isso, o Departamento de Eficiência Governamental deve retomar suas atividades sob novo comando, buscando manter o foco na redução do déficit público e na modernização da máquina administrativa. O futuro político de Musk, no entanto, permanece incerto. Ainda que ele tenha reiterado seu compromisso com a Tesla e outras empresas, muitos especulam que seu ativismo e suas opiniões incisivas continuarão a marcar presença no debate público e político nos Estados Unidos.