A ausência de padrinhos políticos nas Eleições do Recife e suas implicações

DA REDAÇÃO

As eleições municipais de 2024 no Recife estão apresentando um cenário atípico: a ausência marcante de padrinhos políticos ao lado dos principais candidatos à prefeitura da capital pernambucana. A menos de uma semana do pleito, figuras de grande relevância no cenário nacional, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL) e Raquel Lyra (PSDB), governadora de Pernambuco, têm mantido uma presença discreta, ou até inexistente, nas campanhas dos seus respectivos apoiados. Esse afastamento levanta questionamentos sobre a relevância dos padrinhos em eleições municipais e o impacto dessa ausência nos resultados finais.

João Campos, atual prefeito e candidato à reeleição pelo PSB, tem sido uma exceção em termos de desempenho eleitoral. Com uma alta taxa de aprovação, o prefeito conseguiu construir uma candidatura sólida, que o coloca na liderança das pesquisas, com 76% das intenções de voto, segundo levantamento recente do Datafolha. No entanto, o que chama a atenção é que, apesar de sua ligação com o presidente Lula, Campos praticamente não fez uso da imagem do ex-presidente em sua campanha. Para a cientista política Priscila Lapa, esse fenômeno pode estar relacionado ao fato de que João Campos já construiu uma base política forte o suficiente para não depender de padrinhos. “João soube articular seu projeto de reeleição de maneira independente, o que esfriou a competição”, explica.

Por outro lado, Gilson Machado (PL), que conta com o apoio de Jair Bolsonaro, enfrentou uma situação diferente. Em 2022, durante sua campanha ao Senado, Gilson esteve ativamente ao lado de Bolsonaro, mas em 2024, em sua candidatura à prefeitura, a dinâmica mudou. Bolsonaro apareceu em peças publicitárias de Gilson, mas não participou presencialmente de eventos em sua campanha. Essa ausência de apoio mais próximo do ex-presidente pode estar refletindo nas pesquisas, que mostram Gilson com apenas 9% das intenções de voto.

No caso de Daniel Coelho (PSD), apoiado pela governadora Raquel Lyra, o afastamento também é notável. A governadora participou de poucos eventos com o candidato, e sua presença tem sido discreta nas peças publicitárias. Segundo Priscila Lapa, essa estratégia de Raquel pode estar ligada ao foco da governadora em fortalecer sua base no interior do estado, especialmente em Caruaru, onde o atual prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB), ex-vice de Raquel, está em uma disputa acirrada pela reeleição. “Raquel está mais preocupada com sua própria reeleição e o impacto simbólico que uma derrota em Caruaru teria sobre sua liderança política”, avalia Lapa.

O cientista político José Nivaldo também ressalta que, nas eleições municipais, a influência dos padrinhos políticos tende a ser menor do que nas eleições federais. “Nas eleições municipais, as pautas locais ganham mais relevância e o eleitor tende a votar com base na gestão do município e nas necessidades diretas da sua cidade”, afirma. Ele lembra ainda que o apoio de padrinhos pode ser decisivo em situações específicas, como quando um prefeito apoia seu sucessor, mas fora desse contexto, a influência tende a ser limitada.

Essa análise se reflete no cenário de 2024, em que a ausência de padrinhos políticos parece ter pouco impacto sobre a dinâmica das campanhas. No caso de João Campos, por exemplo, o prefeito tem usado sua própria imagem e realizações à frente da prefeitura para alavancar sua reeleição, enquanto Bolsonaro e Lula têm tido uma participação marginal nas campanhas de seus respectivos candidatos. “João Campos, com sua alta popularidade, já se credencia como um possível padrinho político para futuros pleitos, especialmente em cidades como Olinda e Caruaru”, acrescenta Priscila Lapa.

Essa tendência de menor dependência dos padrinhos em disputas locais pode ser vista como um reflexo das particularidades das eleições municipais, onde os problemas e desafios da cidade, como transporte público, saneamento e segurança, tendem a ter mais peso nas escolhas dos eleitores do que as alianças políticas nacionais. No Recife, os eleitores parecem estar mais focados em avaliar a gestão atual e as propostas para o futuro da cidade do que em associações com grandes figuras da política nacional.

A ausência dos padrinhos nas campanhas dos candidatos à prefeitura do Recife em 2024 reforça a ideia de que, nas eleições locais, o desempenho e a gestão do próprio candidato são os fatores mais determinantes. Isso é evidente tanto na vantagem de João Campos, que lidera com ampla margem sem precisar se apoiar fortemente em Lula, quanto nas dificuldades enfrentadas por Gilson Machado e Daniel Coelho, cujos padrinhos não conseguiram impulsionar suas candidaturas de maneira significativa.

O resultado dessas eleições trará lições valiosas sobre o peso real dos padrinhos políticos em disputas municipais e como os candidatos podem, ou não, se beneficiar dessas alianças em diferentes contextos eleitorais.