A disputa pela Prefeitura de Guarulhos, a maior cidade brasileira que não é capital de estado, revelou um racha significativo entre duas figuras proeminentes do Partido Liberal (PL): o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Com aproximadamente 946 mil eleitores, Guarulhos representa o segundo maior colégio eleitoral do estado de São Paulo, tornando essa eleição ainda mais crucial no cenário político brasileiro.
Em um evento realizado em outubro do ano passado, Valdemar Costa Neto anunciou publicamente o vereador Lucas Sanches como pré-candidato à Prefeitura de Guarulhos. Durante sua declaração, Valdemar assegurou que Bolsonaro estaria disposto a apoiar Sanches, afirmando: “Bolsonaro vai trabalhar para o 22”, em referência ao número do PL. Entretanto, a situação se complicou quando Bolsonaro, ao tomar conhecimento do apoio de Valdemar a Sanches, expressou sua insatisfação, deixando claro que não apoiaria o vereador.
Lucas Sanches, que se autodenomina “fiscal do povo”, é um ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) e atualmente exerce um mandato de oposição ao prefeito Guti (PSD). Sua candidatura, inicialmente apoiada por Valdemar, não agradou a Bolsonaro, que preferiu o deputado estadual Jorge Wilson, conhecido como Xerife do Consumidor, do Republicanos. O deputado é visto como um aliado mais próximo de Tarcísio de Freitas, o atual governador de São Paulo, que tem buscado consolidar sua influência política na região.
A divergência entre Bolsonaro e Valdemar se torna ainda mais evidente à medida que Sanches tenta conquistar o apoio do ex-presidente. Apesar de sua migração do PP para o PL e de seus esforços para se alinhar com a base bolsonarista, Sanches não conseguiu eliminar as dúvidas sobre sua lealdade. Durante as eleições de 2022, ele optou por manter uma postura neutra no segundo turno, o que gerou descontentamento em Bolsonaro e seus apoiadores.
O clima de animosidade em torno da pré-candidatura de Sanches foi exacerbado por declarações de Fábio Wajngarten, advogado de Bolsonaro e um de seus aliados mais próximos. Ele ironizou as movimentações de Sanches após o anúncio da pré-candidatura, ressaltando a falta de pesquisa e a escolha de um candidato que, em sua opinião, havia desprezado o ex-presidente anteriormente. Em suas redes sociais, Wajngarten compartilhou um vídeo em que Sanches, em um discurso, parecia criticar Bolsonaro, um trecho que foi amplamente repercutido por apoiadores do ex-presidente.
Enquanto isso, a candidatura de Sanches ganhou apoio da ala mais próxima de Valdemar, incluindo o deputado federal Márcio Alvino e o deputado estadual André do Prado, que têm participado de eventos ao lado do vereador. A situação, no entanto, reflete uma divisão interna no PL, com a influência de Bolsonaro se mostrando um fator crucial na disputa. Ele tem manifestado preferência por Jorge Wilson, o Xerife do Consumidor, que é percebido como um conservador de perfil discreto, em contraste com a trajetória mais controversa de Sanches.
Jorge Wilson, por sua vez, é bem visto no entorno de Bolsonaro, especialmente por sua relação com Tarcísio de Freitas, que é um correligionário do deputado e líder do governo na Assembleia Legislativa de São Paulo. Essa aliança pode ser estratégica para consolidar o apoio de Bolsonaro na região e, consequentemente, influenciar as decisões políticas em Guarulhos.
A dinâmica de apoio e os posicionamentos divergentes entre os líderes do PL colocam em evidência as tensões internas que podem impactar a campanha eleitoral. A luta pela prefeitura de Guarulhos não é apenas uma disputa local, mas um reflexo das estratégias mais amplas que moldam o cenário político brasileiro à medida que os partidos se preparam para as próximas eleições.
A polarização entre os candidatos à prefeitura e as diferenças de apoio político colocam os membros do PL em um dilema. Eles precisam considerar como suas escolhas impactarão a unidade do partido em um momento em que a cooperação é fundamental para enfrentar os desafios impostos pela oposição e pela crescente competição entre os partidos.
Além disso, a situação em Guarulhos serve como um indicativo das possíveis repercussões que a escolha de um candidato pode ter em outras regiões do estado, especialmente em um cenário onde as alianças políticas são frequentemente testadas por divergências de opiniões e interesses. As movimentações em Guarulhos poderão influenciar não apenas a política local, mas também as estratégias dos partidos em todo o estado de São Paulo, com repercussões para as eleições em nível nacional.
Neste contexto, a próxima etapa da disputa será fundamental para determinar quem sairá vitorioso nas urnas e quais serão as consequências dessa rixa entre figuras influentes do PL. A relação entre Bolsonaro e Valdemar, que em outro momento poderia ser considerada uma aliança forte, agora se transforma em um campo de batalha onde a lealdade e a estratégia política se entrelaçam, revelando os complexos desafios que cada um enfrentará em suas respectivas jornadas políticas.
