Crise econômica na Venezuela evidenciada a menos de uma semana das eleições

 (Miguel Gutiérrez/EFE)
DA REDAÇÃO

A crise econômica na Venezuela, intensificada por anos de má gestão e sanções internacionais, é claramente visível nas cidades do interior do país, especialmente a menos de uma semana das eleições presidenciais. Enquanto Caracas ainda mantém uma aparência de normalidade, outras regiões enfrentam desafios diários, como apagões frequentes, escassez de combustível, hospitais em ruínas e estradas intransitáveis.

Na cidade de Biscucuy, no estado de Portuguesa, que é um importante centro de produção de café, a crise é palpável. José Gregorio Mejía, um mecânico de 56 anos, resume a situação: “A economia da cidade não está fácil. É um sacrifício por tudo, nunca na minha vida vi uma situação como essa”. Mejía precisa de uma cirurgia de obstrução urinária, mas o hospital local não possui os materiais necessários para realizá-la. Como resultado, ele continua trabalhando, apesar das recomendações médicas para descansar, ganhando apenas US$ 2 a US$ 4 por dia, insuficiente para pagar a cirurgia em outro lugar.

Rosa de Madrid, uma professora de 62 anos, também sente o impacto da crise. Ela depende da ajuda financeira de uma filha que mora nos Estados Unidos para sobreviver. “Um dizia ‘vamos cuidar dos jovens para viverem felizes na velhice’ e neste momento não podemos dizer isso porque este governo acabou com os salários”, lamenta Rosa.

Os apagões são uma realidade diária para os 50 mil habitantes de Biscucuy, e as estradas que levam às fazendas de café estão cheias de buracos, tornando-se intransitáveis quando chove. Embora o presidente Nicolás Maduro atribua a crise às sanções impostas pelos Estados Unidos em 2019, moradores e especialistas concordam que os problemas começaram muito antes e que o governo se concentrou em “cuidar” de Caracas, onde os cortes de energia são esporádicos e há maior disponibilidade de gasolina e alimentos.

Na campanha eleitoral, Maduro promete consertar escolas, clínicas e construir casas, buscando conquistar o apoio da população nas cidades que visita. Por outro lado, a oposição fala em mudança e eficiência, tentando convencer os eleitores de que um novo governo pode melhorar a situação do país.

A cidade de Biscucuy, que colhe entre 60% e 70% do café venezuelano, enfrenta dificuldades adicionais na produção devido à escassez de diesel para as máquinas de secagem e gasolina para o transporte. A única torrefação da região foi desapropriada, e muitas vezes os cafeicultores são obrigados a vender seus produtos a intermediários. “Estamos nos afogando porque não temos recursos”, disse Migdalis Hernández, responsável por uma fazenda familiar. “O diesel está nas alturas e para secar 10 sacas de café precisamos de 200 litros”.

Além disso, muitos cafeicultores precisam trocar parte de sua produção por mantimentos devido à inflação e desvalorizações que destruíram a moeda local, levando à dolarização informal. Rafael Hernández, outro morador da região, utiliza parte de sua produção para obter farinha de milho, macarrão, açúcar e óleo vegetal. Ele não tem dinheiro suficiente para comprar carne ou frango, resultando em uma dieta precária para os trabalhadores do campo.

Jobito Villegas, prefeito de Biscucuy, estima que entre “5 mil e 10 mil [produtores] desertaram, deixaram o município” devido à crise. “Os jovens foram embora e ficamos os idosos. Nossa força de trabalho está indo embora”, lamenta. “Antes era o êxodo camponês que ia de Biscucuy para Caracas, agora vão de Biscucuy para os Estados Unidos”, destino de milhares de migrantes venezuelanos.

Apesar das dificuldades, Migdalis Hernández mantém esperança e aposta em sua fazenda. “É o que temos, é a herança, é o que os nossos pais nos deixaram, é a nossa economia. Como podemos deixar isso de lado? Temos que mantê-la”, afirma.

A crise econômica da Venezuela, refletida na vida cotidiana dos habitantes do interior do país, evidencia a necessidade de mudanças profundas na gestão do governo. Com as eleições presidenciais se aproximando, a população venezuelana enfrenta um momento crucial em sua história, na esperança de que as promessas de campanha possam se traduzir em melhorias concretas para suas vidas. Enquanto isso, a comunidade internacional observa de perto, consciente de que os resultados destas eleições terão implicações significativas não apenas para a Venezuela, mas para toda a região.