
A partir de 1º de junho de 2025, cidadãos brasileiros não precisarão mais de visto para entrar na China, segundo anunciou o Ministério das Relações Exteriores do país asiático. A medida, que também beneficiará os cidadãos de Argentina, Chile, Peru e Uruguai, terá validade inicial de um ano e integra uma estratégia mais ampla de Pequim para reforçar os laços com as maiores economias da América do Sul, ampliando o escopo de sua política externa e sua influência econômica sobre a região.
O anúncio foi feito pelo porta-voz da chancelaria chinesa, Lin Jian, durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira (15), e marca uma mudança significativa na política de imigração da China com os países latino-americanos. A iniciativa aproxima essas nações de um patamar de acesso que até então era concedido a nações da União Europeia, Japão, Coreia do Sul e outras potências estratégicas.
O gesto chinês é interpretado como um movimento de aprofundamento nas relações diplomáticas e comerciais, especialmente com o Brasil, seu principal parceiro na América Latina e um dos maiores fornecedores de commodities estratégicas como soja, minério de ferro e petróleo. A medida também poderá facilitar ainda mais o intercâmbio comercial, missões empresariais, viagens turísticas e cooperação científica entre as nações envolvidas.
No contexto geopolítico atual, onde as tensões comerciais entre China e Estados Unidos têm aumentado, Pequim demonstra interesse em fortalecer alianças em outras regiões. A América do Sul, com seus recursos naturais abundantes, posição geográfica estratégica e crescente relevância nos fóruns multilaterais, se tornou peça-chave na diplomacia externa chinesa.
Brasil, Argentina e Chile, por exemplo, já ocupam posições de destaque em tratados comerciais e exportações voltadas ao gigante asiático. A isenção de visto pode representar não apenas uma conveniência para viajantes, mas também um facilitador essencial para acelerar negociações e parcerias de investimento em setores como infraestrutura, energia renovável, tecnologia e agronegócio.
Do ponto de vista prático, brasileiros poderão entrar na China para fins de turismo ou negócios sem a necessidade de passar por entrevistas consulares ou pagamento de taxas consulares, o que tende a estimular significativamente o fluxo de pessoas entre os países. O impacto disso também poderá ser observado em feiras internacionais, eventos científicos e visitas institucionais, que agora ganham mais agilidade.
A China já vinha sinalizando esse movimento desde 2023, quando começou a aplicar isenções de visto a vários países europeus e asiáticos, numa tentativa de revitalizar o turismo internacional após o longo fechamento de fronteiras decorrente da pandemia da COVID-19. O novo pacote de isenções para a América do Sul indica que a estratégia agora é expandida também para economias emergentes com forte potencial de parceria.
Para o Brasil, a notícia chega em um momento de retomada das relações comerciais estratégicas com a Ásia e pode abrir novos caminhos para investimentos bilaterais, além de ampliar a presença de empresas brasileiras em solo chinês e vice-versa. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a ApexBrasil já comemoraram o anúncio, destacando o impacto positivo da medida para a internacionalização de negócios e promoção de produtos brasileiros no mercado chinês.
Setores como turismo, tecnologia, exportação agrícola e educação devem ser diretamente beneficiados com o aumento da circulação entre os dois países. Instituições de ensino superior também poderão acelerar processos de intercâmbio estudantil e acadêmico, além da realização de eventos conjuntos de pesquisa.
Apesar da euforia, autoridades diplomáticas ressaltam que o acordo é válido por um ano e poderá ser renovado ou expandido futuramente, dependendo da evolução das relações e dos resultados observados no período inicial. Por ora, a política será limitada a viagens de curta duração e não contempla permanência prolongada, trabalho formal ou residência fixa.
O anúncio da isenção de visto para cidadãos de Brasil, Argentina, Chile, Peru e Uruguai representa um passo relevante na nova diplomacia asiática e reforça o protagonismo do Brasil como parceiro-chave da China na região. Em tempos de tensões comerciais globais, o gesto chinês parece ser mais do que um ato de cortesia diplomática: trata-se de uma aposta estratégica em aliados sul-americanos para equilibrar a balança geopolítica mundial.