Brasil Assuma Presidência do Brics em Meio à Expansão e Novos Desafios Globais

DA REDAÇÃO

O Brasil assumiu, a partir de 1º de janeiro de 2025, a presidência rotativa do Brics, um bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que, este ano, passou a contar com novos membros. A ascensão do Brasil à presidência ocorre em um momento crucial, em meio a uma das maiores expansões do bloco desde sua criação, com a adesão de países como Cuba, Bolívia, Indonésia, Bielorrússia, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. A representa ampliação de um desafio e uma oportunidade para o Brasil consolidar sua liderança no bloco, buscando fortalecer a cooperação entre os países do Sul Global, promover a reforma da governança global e incentivar o desenvolvimento sustentável com inclusão social.

Expansão e Desafios da Presidência Brasileira

O Brasil terá como principal desafio durante sua presidência articular a integração dos novos membros e continuar a construção do sistema de pagamento com moedas locais no comércio entre os países do Brics, com o objetivo de reduzir a dependência do dólar americano. A substituição do dólar por moedas locais foi uma das iniciativas discutidas no último encontro do bloco e é vista como um movimento estratégico para transformar a dinâmica do comércio internacional, proporcionando mais autonomia para os países membros.

O aumento do número de países participantes exigiu do Brasil uma gestão eficaz das novas relações, o que inclui a criação de uma dinâmica para o Brics expandido, com a inclusão de estados associados e a definição de novos formatos de participação. O professor Paulo Borba Casella, especialista em direito internacional, destacou a complexidade da situação, dizendo que o Brasil terá que se empenhar em moldar a estrutura de operação do bloco, com uma nova configuração que incluirá dez estados membros e mais uma dúzia de países associados .

Governança Global e Inclusão Social

Com o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, o Brasil busca avanço em temas que envolvem a reforma da governança global. Em especial, o bloco deverá se concentrar na ampliação da representação dos países da Ásia, África e América Latina nos órgãos internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU e a Organização Mundial do Comércio (OMC). A ideia é garantir maior equidade nas decisões globais, levando em consideração as particularidades das nações em desenvolvimento e criando um espaço mais inclusivo para os países do Sul Global.

Além disso, o Brasil tem enfatizado a importância de adotar políticas de desenvolvimento sustentável que contemplem a inclusão social. O país pretende colocar a questão do meio ambiente, com foco no combate às mudanças climáticas e na promoção de práticas econômicas responsáveis, como uma das pautas prioritárias da presidência. O Brics já vem discutindo soluções para o financiamento de energias renováveis ​​e a redução da desigualdade econômica entre seus membros, com o objetivo de garantir um crescimento mais equilibrado e justo para todos os envolvidos.

A Expansão do Brics e Suas Implicações Geopolíticas

A entrada de novos países no Brics reflete uma tendência crescente de multipolaridade nas relações internacionais, onde blocos alternativos, como o Brics, ganham força diante da hegemonia dos países ocidentais, liderados pelos EUA. A adição de países como o Irã, Arábia Saudita, Egito e Etiópia no ano anterior fortalece ainda mais a posição do bloco no cenário global, superando o peso econômico do G7, composto pelos países mais industrializados.

Em termos econômicos, o Brics agora representa mais de 40% da população mundial e 37% do PIB global por poder de compra. Isso coloca o bloco em uma posição estratégica para competir com os blocos ocidentais e promover um modelo de desenvolvimento alternativo, centrado nas necessidades de seus membros e com foco em políticas de cooperação mútua. A proposta de um sistema financeiro mais inclusivo também é uma das bandeiras do Brics, com um olhar voltado para o fortalecimento das economias emergentes e a redução das desigualdades globais.

Relações com os EUA e a Visão de Trump

A relação dos Brics com os Estados Unidos continua a ser um ponto de tensão, especialmente com a postura do presidente eleito dos EUA, Donald Trump. A sua postura relativamente ao uso de moedas locais e a tentativa de manutenção da supremacia do dólar foram algumas das razões pelas quais o bloco vem buscando alternativas financeiras. Trump, ao criticar o movimento de substituição do dólar, lançou ameaças de aumentar a tributação sobre produtos dos países que aderissem a essa estratégia. No entanto, os especialistas indicam que o impacto das ameaças de Trump será limitado, dado que a economia global e os sistemas financeiros já estão em transição, com uma movimentação crescente em torno de moedas alternativas.

Para o professor Paulo Borba Casella, iniciativas como as do Brics são essenciais para estabelecer uma oposição a políticas mais unilaterais e protecionistas, representadas pelo discurso de Trump. O Brics se posiciona como uma alternativa de diálogo e colaboração, propondo um sistema econômico mais justo, baseado na cooperação e respeito mútuo, longe de uma agenda mesquinha e impositiva.

Expectativas para o Futuro

Com o Brasil assumindo a presidência do Brics, há uma expectativa crescente sobre como o bloco avançará em relação à reforma da governança global e à criação de um sistema financeiro mais independente. Além disso, questões como o desenvolvimento sustentável, a inclusão social e a promoção de energias renováveis ​​serão cruciais para fortalecer a agenda do bloco nos próximos anos.

A entrada de novos membros também implica uma maior responsabilidade para o Brasil em sua liderança, com a necessidade de garantir a eficácia do sistema de pagamentos com moedas locais, fortalecer a integração dos membros e desenvolver soluções sustentáveis ​​para os desafios globais. Em um mundo cada vez mais multipolar, o Brics se apresenta como um ator-chave nas negociações internacionais, com o Brasil desempenhando um papel de destaque na condução dessa transformação.