
Em 2023, o Brasil atingiu uma marca histórica e alarmante: a perda de 33% de suas áreas naturais. Esse dado é parte de um estudo realizado pelo MapBiomas, uma iniciativa que reúne universidades, ONGs e empresas de tecnologia para mapear anualmente a cobertura e o uso da terra no Brasil, além de acompanhar as mudanças no território ao longo dos anos. De acordo com o relatório divulgado na última quarta-feira (21), o desmatamento acelerado das últimas décadas é o principal responsável por essa devastação.
A Extensão da Devastação
A análise do MapBiomas revela que, desde 1985, o Brasil já havia perdido 20% de suas áreas naturais. Em um período de quase 40 anos, entre 1985 e 2023, esse número aumentou em 13 pontos percentuais, resultando na devastação de um terço das áreas naturais do país. Essas áreas incluem vegetação nativa, superfícies de água e áreas naturais não vegetadas, que são essenciais para a preservação da biodiversidade e o equilíbrio ecológico.
Ao todo, cerca de 110 milhões de hectares foram desmatados nesse período, com a formação florestal sendo o tipo de cobertura nativa que mais sofreu perdas. A Amazônia, o maior bioma do Brasil, foi o mais afetado, com 55 milhões de hectares desflorestados, representando metade de toda a área desmatada no país.
Impactos por Biomas e Regiões
O relatório do MapBiomas destaca a situação crítica de diversos biomas brasileiros. Nos últimos 16 anos, 45% dos municípios do país perderam vegetação nativa, refletindo a expansão desenfreada da agricultura e da pecuária. Entre 2008 e 2023, apenas 18% dos municípios conseguiram manter a estabilidade em termos de cobertura vegetal, com alterações menores que 2% em suas áreas naturais. Por outro lado, 37% dos municípios registraram algum ganho de vegetação nativa.
A Mata Atlântica, um dos biomas mais devastados historicamente, surpreendeu com um crescimento de 56% na vegetação nos últimos 16 anos. No entanto, o Pantanal foi o bioma que mais sofreu perdas, com 82% de suas áreas naturais em municípios devastadas no mesmo período. Em termos de área total, a Amazônia e o Cerrado foram os biomas que mais perderam vegetação nativa.
Estados e Terras Indígenas
Entre os estados que registraram os maiores ganhos em vegetação natural estão Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Em contrapartida, Rondônia, Tocantins e Maranhão foram os estados com as maiores perdas em áreas originárias, refletindo a intensificação do desmatamento nessas regiões.
As Terras Indígenas (TIs), que correspondem a 13% do território nacional, continuam sendo as áreas mais preservadas do Brasil. Entre 1985 e 2023, a perda de vegetação nesses territórios foi inferior a 1%, destacando a importância das TIs na conservação ambiental. Por outro lado, em áreas privadas, a perda de vegetação chegou a 28%, evidenciando a pressão das atividades econômicas sobre os ecossistemas naturais.
Expansão da Pecuária e Agricultura
O estudo do MapBiomas também aponta que a pastagem e a agricultura foram os tipos de uso da terra que mais se expandiram ao longo das últimas décadas. A área de pastagem aumentou 79%, representando 72,5 milhões de hectares a mais em relação a 1985. Já a agricultura cresceu 228%, ampliando-se em 42,4 milhões de hectares no mesmo período.
Essas atividades, embora essenciais para a economia do país, têm contribuído significativamente para a redução das áreas naturais, especialmente em biomas como a Amazônia e o Cerrado. O avanço da fronteira agrícola e a conversão de florestas em pastagens são fatores que aceleram a degradação ambiental, comprometendo a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.
Desafios e Perspectivas
Apesar da devastação alarmante, o Brasil ainda possui 64,5% de seu território coberto por vegetação nativa. Em 1985, esse percentual era de 76%, indicando uma redução significativa ao longo de quase quatro décadas. Das perdas de vegetação em território nacional, mais da metade (60%) ocorreram em propriedades privadas, reforçando a necessidade de políticas públicas mais rigorosas e eficazes para conter o desmatamento.
O relatório do MapBiomas lança luz sobre a urgência de ações voltadas para a conservação dos biomas brasileiros e a recuperação de áreas degradadas. A preservação das Terras Indígenas como baluartes de conservação ambiental é um exemplo de que, com a gestão adequada, é possível manter ecossistemas vitais para o equilíbrio climático e a sustentabilidade do país.
À medida que o Brasil enfrenta desafios crescentes relacionados às mudanças climáticas e à pressão por desenvolvimento econômico, a conservação das áreas naturais e a adoção de práticas agrícolas e pecuárias sustentáveis são imperativos para garantir um futuro equilibrado e próspero para as próximas gerações.