Brasil amplia exportações de soja e farelo em meio à guerra comercial entre China e EUA

DA REDAÇÃO

Em meio à intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China em 2025, o Brasil surge como protagonista global no fornecimento de soja e derivados, com exportações em crescimento tanto para o mercado chinês quanto para seus principais parceiros na Europa, Oriente Médio e Sudeste Asiático. O impulso vem de uma safra histórica de quase 170 milhões de toneladas, consolidando o país como o maior produtor e exportador mundial do grão.

O cenário foi apresentado nesta quinta-feira (24) por Daniel Furlan Amaral, diretor de Economia e Assuntos Regulatórios da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), durante coletiva online com jornalistas. Amaral destacou que o momento é favorável para o agronegócio brasileiro, que pode ampliar sua presença em mercados estratégicos diante da instabilidade provocada pelas tarifas impostas por Donald Trump sobre importações chinesas e pelas medidas retaliatórias adotadas por Pequim.

A colheita, já praticamente finalizada, proporciona ao Brasil um estoque robusto que permite flexibilidade comercial. Segundo Amaral, “o Brasil aparece como um fornecedor confiável, que tem produção crescente e relacionamento sólido com seus parceiros internacionais”. A confiança depositada pelos importadores reforça a posição do país como alternativa viável às tensões geopolíticas, especialmente na área de alimentos — setor considerado estratégico e vital para a segurança alimentar global.

A demanda chinesa por soja continua elevada, e o Brasil, com seus volumes crescentes, deverá exportar ainda mais para o gigante asiático. Ao mesmo tempo, há expectativa de aumento significativo nas vendas de farelo de soja para os principais mercados do Brasil no exterior, com destaque para a Europa, o Oriente Médio e o Sudeste Asiático — regiões que tradicionalmente mantêm contratos expressivos com indústrias brasileiras de esmagamento e refino.

A expectativa de crescimento das exportações também inclui o óleo de soja. Segundo Amaral, parte da produção será direcionada ao mercado internacional após o governo federal suspender o aumento previsto na mistura obrigatória de biodiesel ao diesel, que passaria de 14% para 15% este ano. “Com menos biodiesel sendo produzido internamente, sobra óleo que pode ser comercializado no exterior ou direcionado aos estoques estratégicos”, afirmou.

Esse movimento, no entanto, implica em consequências logísticas e econômicas: com menos biodiesel no mercado interno, o Brasil precisará importar mais combustível fóssil. Em 2024, mais de 20% do diesel consumido no país foi importado, e essa dependência poderá se acentuar em 2025.

Mesmo assim, há perspectiva de reversão. Os preços do óleo refinado, que haviam justificado a decisão governamental de adiar o aumento da mistura, estão em queda. Com a tendência de estabilização dos custos, Amaral considera plausível um retorno à meta de B15 (15% de biodiesel no diesel) ainda este ano, dependendo de uma nova análise do governo federal.

O otimismo se estende ao desempenho do setor no Produto Interno Bruto (PIB). Após uma retração de 5% em 2024, causada pela quebra da safra daquele ano, o PIB da cadeia da soja — que inclui também a produção de biodiesel — deve apresentar recuperação robusta em 2025, acompanhando o bom desempenho da colheita e o aumento do processamento industrial.

A Abiove já projeta elevação do processamento doméstico de soja, o que tende a gerar efeitos positivos em diversas pontas da cadeia, desde a geração de empregos na indústria até o aumento de arrecadação tributária em estados produtores. “O setor está pronto para crescer novamente, sustentado em uma base sólida de produtividade agrícola, demanda externa aquecida e capacidade de adaptação às circunstâncias geopolíticas”, destacou Amaral.

A guerra comercial entre EUA e China — reativada em 2025 com novos pacotes tarifários por parte de Washington — contribui para esse cenário. A imposição de tarifas mais altas sobre produtos chineses, especialmente alimentos e insumos industriais, provocou um realinhamento das cadeias de suprimento globais. Com isso, o Brasil passou a ser observado como uma peça central no esforço internacional de reconfiguração logística, especialmente nos segmentos de commodities agrícolas.

Mesmo que a situação entre as duas potências permaneça volátil, o Brasil tem conseguido se manter fora da linha de fogo, adotando uma postura diplomática equilibrada e focada no fortalecimento de suas parcerias comerciais. A diplomacia pragmática adotada pelo governo brasileiro tem evitado o envolvimento direto nas disputas e garantido acesso a mercados críticos, especialmente em tempos de restrições e incertezas comerciais.

Para Amaral, a guerra tarifária entre as maiores economias do mundo traz desafios, mas também oportunidades. “Estamos observando o cenário de perto. É um momento sensível, mas, ao mesmo tempo, estratégico. Precisamos manter o foco na eficiência e no fornecimento confiável. Ninguém brinca com alimentos, e os nossos parceiros sabem disso”, disse.

Com a maior safra da história e capacidade industrial consolidada, o Brasil reforça sua vocação como celeiro do mundo e parceiro de confiança no abastecimento global. Mesmo em meio a crises geopolíticas, o agronegócio brasileiro segue avançando com competitividade, eficiência e peso crescente nas exportações.

Com esse ritmo, o setor de soja e derivados não apenas contribui para o equilíbrio da balança comercial brasileira, mas também para a consolidação do país como um protagonista no cenário alimentar global.