Bilionário Enrique Razon ignora guerra comercial e aposta em expansão portuária no Brasil

DA REDAÇÃO

Enquanto governos e empresas ao redor do mundo recalculam estratégias diante da intensificação da guerra tarifária entre Estados Unidos e China, o bilionário filipino Enrique Razon Jr. parece navegar em sentido oposto. Controlador da International Container Terminal Services Inc. (ICTSI), Razon aposta em uma nova etapa de expansão logística no Brasil, reforçando seu compromisso com a ampliação da infraestrutura portuária no país mesmo diante de um cenário global de incertezas.

Através da ICTSI Americas, subsidiária integral do grupo, a companhia anunciou a aquisição de 47% do Inhaúma Fundo de Investimento Imobiliário (FII), que detém os direitos perpétuos sobre uma área de 32 hectares conhecida como Estaleiro Inhaúma. O local, que já foi um importante estaleiro naval, fica ao lado do terminal Rio Brasil, operado pela ICTSI no porto do Rio de Janeiro. Segundo comunicado à bolsa filipina, a empresa pretende desenvolver a área “no futuro imediato”, sem revelar o valor da transação.

Com essa iniciativa, Razon reforça sua estratégia de crescimento da ICTSI, que opera 32 terminais portuários em 19 países e movimentou mais de 13 milhões de contêineres equivalentes a 20 pés em 2024. O plano de expansão global é sustentado por investimentos recordes: em 2024, a ICTSI aplicou US$ 517 milhões em projetos internacionais, e, para este ano, a meta é superar esse número, com alocação prevista de US$ 580 milhões (R$ 3,36 bilhões).

No Brasil, a operação portuária da ICTSI já é reconhecida por sua eficiência e contribuição para o escoamento de cargas nacionais e importadas, especialmente no Sudeste. A nova aquisição do Estaleiro Inhaúma visa justamente aumentar essa capacidade de movimentação e reforçar o papel do porto do Rio de Janeiro como ponto estratégico para o comércio exterior brasileiro, sobretudo em tempos de redirecionamento de rotas logísticas devido às tensões comerciais globais.

A decisão de expandir no Brasil ocorre em um momento em que o presidente norte-americano Donald Trump voltou a elevar tarifas de importação, impactando especialmente produtos chineses, mas também afetando cadeias logísticas globais. A postura protecionista reacende temores de desaceleração do comércio internacional, afetando investimentos, previsões de crescimento e a estabilidade de mercados emergentes.

Apesar desse cenário, Razon mostra-se confiante no potencial de crescimento da infraestrutura logística e portuária, particularmente em regiões com demanda reprimida como o Brasil. Segundo a empresa, a aquisição representa “uma oportunidade de investimento estratégica no desenvolvimento da área e na expansão da capacidade operacional e logística da região portuária do Rio de Janeiro”.

Além da ICTSI, Razon é um dos principais acionistas da Bloomberry Resorts, operadora do renomado cassino Solaire Resort & Casino nas Filipinas, e também controla a Prime Infrastructure Capital, com ativos em saneamento e energia. Seu patrimônio, estimado em US$ 10,4 bilhões (R$ 60,3 bilhões), o posiciona como o segundo homem mais rico das Filipinas, de acordo com o ranking da Forbes em tempo real.

A confiança de Razon no Brasil não é uma aposta isolada. Em 2024, a empresa já havia reforçado sua presença com investimentos direcionados a melhorias tecnológicas, automação de terminais e aquisição de novos equipamentos portuários. A expansão no Estaleiro Inhaúma, agora, surge como o próximo passo lógico dessa ofensiva.

Mesmo diante das dificuldades conjunturais do comércio global, incluindo o desaquecimento da demanda em alguns setores e o encarecimento de fretes marítimos, a visão de longo prazo de Razon aposta na recuperação econômica regional e na crescente necessidade de infraestrutura para sustentar o fluxo de mercadorias. Para ele, o Brasil representa uma plataforma estratégica para a América Latina, tanto para exportações quanto para importações, sobretudo com a aproximação dos BRICS e o fortalecimento da relação comercial com o Sudeste Asiático.

Especialistas apontam que a movimentação do bilionário filipino indica uma leitura diferenciada do mercado. Enquanto investidores tradicionais demonstram cautela, ele intensifica aportes em ativos físicos, sobretudo infraestrutura crítica — algo que tende a valorizar em ciclos de crise, por garantir controle sobre cadeias logísticas e ativos reais com retorno estável.

No caso do Estaleiro Inhaúma, a localização privilegiada e a conexão direta com o terminal Rio Brasil oferecem um potencial de sinergia operacional que pode multiplicar a capacidade atual da ICTSI no Brasil. Além disso, o investimento poderá gerar empregos e estimular a economia regional, com expectativa de novos contratos e movimentação de cargas industriais e de contêineres nos próximos anos.

Embora a empresa não tenha divulgado prazos específicos para o início das obras, fontes do setor portuário indicam que a ICTSI já iniciou estudos técnicos e sondagens para avaliar a viabilidade estrutural do antigo estaleiro. A expectativa é de que, após licenciamento e ajustes regulatórios, o local passe a operar com capacidade integrada ao terminal já existente, com ganho logístico significativo para a cidade do Rio de Janeiro.

O movimento ousado de Enrique Razon reforça a ideia de que, mesmo diante de um cenário internacional marcado por tarifas, tensões políticas e incertezas econômicas, há empresários dispostos a apostar no Brasil como polo estratégico de expansão. E essa escolha, como indicam os números e os ativos sob gestão da ICTSI, não se baseia em otimismo cego, mas em planejamento, visão de futuro e análise pragmática de oportunidades.

No fim, enquanto o mundo se fecha em disputas protecionistas, o porto do Rio de Janeiro se abre para o mundo — com o selo de confiança de um dos bilionários mais visionários da Ásia.