Azul entra com pedido de recuperação judicial nos EUA e ações despencam 30%

Azul em turbulência: por que a companhia aérea pediu recuperação judicial  nos Estados Unidos?
DA REDAÇÃO

A companhia aérea Azul anunciou nesta quarta-feira (28) que entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, em um movimento que encerra meses de especulações sobre a viabilidade de sua reestruturação financeira. O pedido foi feito em meio a um cenário de alta pressão sobre o caixa da empresa, que enfrenta dívidas significativas agravadas pelo impacto prolongado da pandemia de Covid-19 no setor aéreo.

A notícia provocou uma reação imediata nos mercados. Os ADRs da Azul, negociados nos Estados Unidos, despencaram quase 30% antes da abertura dos mercados norte-americanos. A queda reflete a preocupação dos investidores com o futuro da companhia e com as perspectivas do mercado de aviação, que vem tentando se recuperar dos efeitos devastadores da pandemia.

O presidente-executivo da Azul, John Rodgerson, explicou que a empresa estava “sob uma montanha de dívidas” desde a crise sanitária global e que o processo de recuperação judicial, conhecido como Chapter 11 nos EUA, surge como uma oportunidade para reestruturar o balanço e retomar o crescimento. “Tínhamos muitas dívidas no balanço, principalmente devido à Covid. Agora temos a oportunidade de limpar tudo”, disse Rodgerson à Reuters.

De acordo com a companhia, o processo conta com acordos já firmados com os principais credores, incluindo detentores de títulos de dívida, a arrendadora de aeronaves AerCap e os parceiros estratégicos United Airlines e American Airlines. O plano envolve a eliminação de mais de US$ 2 bilhões em dívidas e prevê um aporte de até US$ 950 milhões em equity, além de um financiamento de US$ 1,6 bilhão para sustentar as operações durante a reestruturação.

Rodgerson afirmou ainda que o objetivo da Azul é concluir o processo até o final de 2025. “A saída às vezes é a parte mais difícil deste processo. Então, já estamos entrando com a saída em mente e com o financiamento garantido”, declarou.

A Azul vinha enfrentando dificuldades para avançar em sua reestruturação desde o ano passado. Embora tenha firmado acordos com arrendadores de aeronaves, eliminando US$ 550 milhões em dívidas em troca de uma participação acionária de cerca de 20%, e com credores financeiros para levantar mais US$ 500 milhões, outros fatores continuaram a pesar. Problemas na cadeia de suprimentos, atrasos na entrega de aeronaves e o real desvalorizado frente ao dólar intensificaram a pressão sobre a companhia.

Segundo Rodgerson, o custo de financiamento em dólares explodiu desde 2019, aumentando dez vezes por conta da desvalorização cambial. “O que eu costumava pagar em juros em 2019 aumentou 10 vezes com uma moeda 50% mais fraca”, explicou o executivo.

A recuperação judicial da Azul ocorre em um contexto em que outras aéreas latino-americanas, como a Aeroméxico, a colombiana Avianca e as rivais brasileiras Gol e LATAM Airlines, já recorreram ao Chapter 11 para lidar com o elevado endividamento pós-pandemia.

Para especialistas do setor, o pedido de recuperação judicial era esperado diante do quadro desafiador da Azul, embora sinalize um impacto imediato nas operações e nas expectativas de fusões ou aquisições. O pedido também coloca em xeque a fusão especulada entre Azul e Gol, que vinha sendo debatida como alternativa para fortalecer o mercado aéreo brasileiro.

A Azul destacou que o financiamento do tipo DIP (debtor-in-possession) de US$ 1,6 bilhão, obtido junto a parceiros financeiros, servirá para pagar parte da dívida existente e fornecer US$ 670 milhões em capital novo para garantir a liquidez durante a reestruturação. Após a conclusão do processo, a empresa prevê levantar até US$ 650 milhões em uma oferta de ações, além de até US$ 300 milhões adicionais de investimento pelos parceiros estratégicos United e American Airlines.

Enquanto o mercado acompanha os próximos passos, a Azul segue operando normalmente, apostando no plano de reestruturação como um caminho para retomar a confiança dos investidores e reequilibrar as contas em um cenário global cada vez mais competitivo e desafiador. A expectativa é que a empresa consiga, de fato, encerrar o processo até o fim do ano, saindo fortalecida para encarar as turbulências do setor aéreo e as novas demandas do mercado.