Azul avança em acordo com arrendadores e se aproxima de injeção de capital de até US$ 400 milhões

DA REDAÇÃO

A Azul Linhas Aéreas está prestes a dar um passo importante para fortalecer sua posição financeira no mercado de aviação. Após intensas negociações com arrendadores de aeronaves, a empresa já fechou acordo com 90% dos credores e estima concluir a totalidade do processo nos próximos dias. Esse avanço é essencial para que a companhia aérea consiga o aval dos bondholders (detentores de títulos da dívida) e, com isso, capte entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões em uma oferta privada de capital que deve ocorrer até o final de outubro de 2024.

A negociação com os arrendadores – também conhecidos como lessores no setor – é um elemento crucial para garantir a sustentabilidade financeira da Azul. A empresa busca converter cerca de US$ 600 milhões de dívida com esses credores em participação acionária, o que os tornaria detentores de entre 20% e 22% do capital social da companhia. O preço estimado das ações na negociação é de R$ 30, um valor bem superior ao atual, que gira em torno de R$ 5,10.

Acordo estratégico para o futuro

Para garantir a operação, a Azul utilizou como garantia sua empresa de logística, a Azul Cargo, avaliada em US$ 800 milhões. Esse movimento é semelhante à estratégia adotada no ano anterior, quando a empresa converteu dívidas relacionadas ao programa de fidelidade Tudo Azul em ações. A expectativa é que o acordo permita à Azul melhorar sua estrutura de capital e preparar o terreno para o crescimento futuro, conforme aponta uma fonte próxima às negociações: “Os bondholders estão construtivos sobre a empresa, mas querem ver esse novo dinheiro capitalizando o crescimento, não apenas pagando dívidas do passado”.

O ambiente para a aviação comercial segue desafiador, como demonstram as recentes reestruturações de outras empresas do setor. A Gol, por exemplo, entrou com pedido de proteção contra falência (Chapter 11), o que evidencia as dificuldades enfrentadas por companhias aéreas em todo o mundo. A Azul, embora tenha visto sua margem voltar aos níveis pré-pandemia, continua enfrentando desafios, como o aumento nos custos de combustível e a depreciação do real, que impacta diretamente seus resultados financeiros.

Ventos favoráveis

No entanto, o cenário não é totalmente desanimador. A Azul tem contado com avanços que ajudam a impulsionar a confiança de investidores e credores. Entre as boas notícias está a possível privatização da TAP, companhia aérea portuguesa à qual a Azul emprestou cerca de R$ 1 bilhão em 2016. Com a privatização, há a expectativa de que a Azul possa recuperar parte desse valor, o que injetaria recursos extras no caixa da empresa.

Outro fator positivo é a recente aprovação de linhas de crédito para companhias aéreas, garantidas pelo Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac). Executivos do setor afirmam que as linhas, no valor de aproximadamente R$ 5 bilhões, estarão disponíveis até o final do ano, o que pode trazer alívio financeiro para a Azul e outras empresas de aviação.

Histórico de negociações e desafios

As negociações de conversão de dívida da Azul começaram em 2023, quando a empresa propôs a conversão de dívidas em ações preferenciais ao valor de R$ 36 por ação. Embora o mercado tenha recebido a proposta com preocupação, temendo diluição da base acionária e queima de caixa, a Azul voltou à mesa de negociações em busca de soluções menos prejudiciais. O novo acordo é visto como mais equilibrado e promete evitar uma diluição excessiva.

Apesar do progresso nas negociações, a Azul enfrenta um ambiente operacional complexo. Atrasos na entrega de aeronaves, combinados com o uso prolongado de motores mais antigos, elevam os custos de manutenção e pressionam a lucratividade da companhia. Além disso, o fechamento temporário do aeroporto de Porto Alegre, um dos principais hubs da Azul, devido às chuvas no Rio Grande do Sul, afetou aproximadamente 10% da malha da empresa, agravando as dificuldades operacionais.

No primeiro semestre de 2024, a receita líquida da Azul permaneceu estável em R$ 8,8 bilhões, enquanto o Ebitda cresceu 17%, alcançando R$ 1,24 bilhão. No entanto, a geração de fluxo de caixa livre foi negativa, devido à alta dos juros e aos pagamentos de arrendamentos e investimentos necessários para a operação. Segundo a agência de classificação de risco Fitch, o Ebitda estimado para o segundo semestre de 2024 deve ficar entre R$ 3,3 bilhões e R$ 3,6 bilhões, enquanto os compromissos financeiros, incluindo arrendamentos e juros, devem somar R$ 4,1 bilhões.

As dificuldades financeiras da Azul levaram as agências de classificação de risco a rebaixarem a nota de crédito da companhia. A Fitch, por exemplo, reduziu a nota da empresa de ‘B-’ para ‘CCC’ nesta semana, enquanto a Moody’s também cortou a nota da Azul no início da semana.

Expectativas futuras

Com a conclusão das negociações com arrendadores e a aprovação da oferta privada de capital, a Azul espera um novo fôlego para atravessar o cenário desafiador. A captação de até US$ 400 milhões é vista como essencial para estabilizar as operações e retomar o crescimento, embora a empresa ainda precise lidar com variáveis externas, como a depreciação do real e o alto custo do combustível de aviação.

Ao mesmo tempo, a privatização da TAP e a liberação das linhas de crédito garantidas pelo Fnac podem representar oportunidades de melhoria financeira no médio prazo. A Azul demonstra resiliência ao negociar com credores e arrendadores, buscando soluções que minimizem os impactos negativos e garantam a continuidade das operações em um ambiente altamente competitivo e volátil.

Essa nova fase promete definir o futuro da companhia no mercado de aviação, com uma gestão focada em reduzir o endividamento e encontrar alternativas para alavancar o crescimento em meio a adversidades.