Apple Exporta US$ 2 Bi em iPhones da Índia para os EUA em Manobra Contra Tarifas de Trump

DA REDAÇÃO

A Apple intensificou sua estratégia logística global e movimentou quase US$ 2 bilhões em iPhones da Índia para os Estados Unidos em março de 2025, numa ação coordenada para evitar os impactos das tarifas de importação impostas pela administração do presidente Donald Trump. A movimentação sem precedentes teve como protagonistas as fornecedoras Foxconn e Tata Electronics, que utilizaram transporte aéreo para acelerar o envio de cerca de 600 toneladas de dispositivos ao território norte-americano, em uma operação descrita por fontes como “uma corrida contra o tempo e contra as tarifas”.

Essa ação estratégica ocorre em meio ao novo ciclo de imposições tarifárias adotadas por Trump. Em abril, o governo dos EUA anunciou uma tarifa de 26% sobre importações vindas da Índia, taxa significativamente menor que os mais de 100% aplicados sobre produtos fabricados na China, mas ainda assim suficiente para alterar as dinâmicas de fornecimento de uma das empresas mais valiosas do mundo.

Foxconn lidera exportações históricas; Tata cresce mais de 60% em um mês

De acordo com dados alfandegários analisados pela Reuters, a Foxconn exportou sozinha US$ 1,31 bilhão em iPhones para os EUA em março — valor equivalente à soma de todas as remessas realizadas em janeiro e fevereiro. Os modelos incluídos na operação foram os iPhones 13, 14, 16 e 16e, consolidando a Índia como uma base de produção confiável e robusta para a Apple em um momento de fragilidade geopolítica com a China.

Já a Tata Electronics, outra fornecedora estratégica da Apple no território indiano, teve desempenho igualmente notável. Suas exportações somaram US$ 612 milhões, um crescimento de 63% em relação ao mês anterior. A empresa foi responsável pelo envio de modelos mais recentes, como os iPhones 15 e 16, reforçando seu papel na cadeia global da Apple.

Com essas movimentações, o total de exportações da Foxconn da Índia para os EUA em 2025 já soma US$ 5,3 bilhões — um recorde anual alcançado antes mesmo da metade do ano. As remessas, feitas a partir do terminal aéreo de Chennai, no sul da Índia, tiveram como destinos principais as cidades de Chicago, Nova York e Los Angeles, com a capital do estado de Illinois recebendo a maior parte da carga.

Lobby nos bastidores e aceleração logística para evitar prejuízos

Para tornar possível uma operação logística tão agressiva, a Apple atuou diretamente com autoridades indianas. A empresa fez lobby para reduzir o tempo de liberação de carga no aeroporto de Chennai de 30 horas para apenas 6 horas. A medida foi determinante para manter a fluidez do transporte e garantir a chegada dos produtos aos EUA antes da efetivação das tarifas.

Segundo fontes envolvidas, ao menos seis cargueiros foram utilizados na operação, demonstrando o nível de urgência da empresa diante da iminência dos novos encargos alfandegários.

A Apple não comentou oficialmente a operação, tampouco a Foxconn e a Tata. A empresa de Cupertino tem evitado se pronunciar sobre medidas específicas ligadas à guerra comercial, optando por manter foco na continuidade operacional e no abastecimento eficiente de seus mercados prioritários.

Trump recua parcialmente, mas incertezas permanecem

Após o envio recorde de iPhones, Trump concedeu isenções temporárias para smartphones e alguns produtos eletrônicos, desde que não sejam fabricados na China. A exceção, porém, tem validade curta e não contempla os produtos chineses, o que mantém a tensão entre os dois países e reforça a necessidade de diversificação das bases produtivas das empresas multinacionais.

A Apple, que já vinha diminuindo sua dependência da China desde as tensões comerciais iniciadas em 2018, agora acelera a migração para países considerados geopoliticamente mais seguros — com destaque para Índia e Vietnã.

Indústria global de tecnologia redefine rotas de produção

O movimento da Apple não é isolado. Outras gigantes do setor de tecnologia, como Samsung, HP e Dell, também estão transferindo parte significativa de sua produção para fora da China, em resposta aos riscos regulatórios, logísticos e políticos. A pandemia da Covid-19, os bloqueios de fornecimento em 2022 e o endurecimento das políticas comerciais desde 2023 transformaram a estrutura de produção tecnológica global.

A Índia, beneficiada por incentivos fiscais, abundância de mão de obra e uma política externa alinhada aos Estados Unidos, tornou-se um dos principais destinos para esse redirecionamento de fábricas. Com centros de produção modernos e fornecedores locais fortalecidos, o país se consolida como eixo estratégico para a indústria de eletrônicos de consumo.

Impactos comerciais e diplomáticos da nova geopolítica da tecnologia

A escalada tarifária promovida por Trump não apenas encarece produtos importados, mas também força empresas a redesenhar suas estratégias de abastecimento e distribuição. O caso da Apple ilustra bem esse cenário: a empresa não esperou a oficialização das tarifas para agir. Ao antecipar remessas e estabelecer rotas alternativas, evitou perdas e manteve seu posicionamento competitivo nos Estados Unidos, seu principal mercado.

Contudo, essas manobras têm efeito colateral. Pequim vê os movimentos de empresas ocidentais como parte de uma política coordenada de contenção econômica e tecnológica. Por outro lado, Washington justifica as medidas como forma de proteger a indústria americana, fomentar o emprego doméstico e reduzir a vulnerabilidade frente a rivais estratégicos.

Esse embate afeta não apenas as duas maiores economias do planeta, mas toda a cadeia global de fornecimento. Países emergentes, como a Índia, ganham espaço nesse redesenho geoeconômico — mas também se tornam peças centrais em um jogo diplomático cada vez mais complexo.

Uma operação bilionária para manter a liderança

O envio de US$ 2 bilhões em iPhones da Índia para os Estados Unidos, em março de 2025, é muito mais do que uma movimentação logística. É a materialização de uma estratégia corporativa ágil, que responde de forma rápida às flutuações do ambiente político-econômico global. A Apple, ao antecipar-se às tarifas, não apenas protege seus lucros, mas reafirma sua capacidade de adaptação e liderança em um setor onde as regras mudam com velocidade.

Em meio às incertezas provocadas por novas tarifas, guerras comerciais e tensões diplomáticas, o exemplo da Apple mostra que, na nova ordem global da tecnologia, quem se antecipa, vence. E quem hesita, paga caro.