Aliados de Bolsonaro apostam em ‘perseguição política’, mas admitem condenação iminente

DA REDAÇÃO

A denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por suposta tentativa de golpe de Estado dividiu opiniões e trouxe à tona uma intensa defesa dos seus aliados, que insistem na tese de perseguição política. Para eles, Bolsonaro está sendo injustamente atacado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e, apesar das evidências que podem surgir durante o processo, a ideia de que ele não teria autorizado efetivamente o golpe continua a ser sustentada como a principal linha de defesa.

No entanto, nos bastidores, alguns desses mesmos aliados admitem que a condenação do ex-presidente é praticamente certa. Embora a tentativa de minimizar a gravidade dos fatos persista, há um reconhecimento de que Bolsonaro está caminhando para ser responsabilizado, o que pode alterar seu papel nas eleições de 2026, mas não necessariamente o enfraquecer politicamente. Pelo contrário, os próximos meses podem transformar o ex-presidente em um cabo eleitoral ainda mais forte, potencializando sua influência no cenário político.

A Estratégia de Defesa: ‘Perseguição Política’

Aliados de Bolsonaro, especialmente os membros de seu partido e outros senadores próximos, estão adotando uma estratégia clara: reforçar a tese de perseguição política. Para muitos, o ex-presidente está sendo alvo de um ataque orquestrado pelo STF, com o intuito de desqualificar sua liderança e impedir sua participação em futuros processos eleitorais. Na visão deles, o ex-presidente não teria dado uma ordem direta para a concretização de um golpe, mas estaria apenas discutindo alternativas para contestar os resultados da eleição de 2022.

Em declarações públicas, Flávio Bolsonaro, senador pelo PL-RJ, afirmou que a denúncia da PGR contra o seu pai é sem fundamento, alegando que não há provas que sustentem as acusações. Da mesma forma, outros aliados de Bolsonaro, como Rogério Marinho e Ciro Nogueira, se manifestaram nas redes sociais, destacando que o ex-presidente está sendo alvo de uma injustiça e que a perseguição por parte de seus opositores não irá calar o movimento que ele representa. Esses defensores mantêm a narrativa de que Bolsonaro é um herói político, afastado das eleições por manobras jurídicas.

Condenação: A Realidade e o Papel de Cabo Eleitoral

Apesar das declarações públicas, aliados próximos ao ex-presidente não escondem a preocupação com uma condenação iminente. A denúncia da PGR e a investigação em andamento têm levado muitos a acreditar que, embora Bolsonaro tente desviar a culpa, as chances de uma condenação pelo STF sejam extremamente altas. As evidências de sua participação nas tentativas de interferência nas eleições e sua ligação com movimentos que buscaram reverter o resultado das urnas tornam difícil acreditar que ele sairá ileso.

No entanto, dentro do campo político de direita, a possível condenação não seria necessariamente um golpe fatal para suas aspirações políticas futuras. Ao contrário, ela poderia consolidar Bolsonaro como um mártir político, afastado das disputas eleitorais, mas com grande poder de mobilização. Seu papel de cabo eleitoral poderia ser ainda mais forte, já que o ex-presidente se apresentaria como vítima de um sistema que o desqualificou para as eleições de 2026. Para seus apoiadores, ele seria a voz da resistência, e sua liderança poderia orientar o caminho de um novo candidato à presidência que carregaria seus ideais.

O Impacto na Eleição de 2026

A questão que se coloca, então, é como essa condenação afetaria diretamente a eleição presidencial de 2026. A estratégia política de Bolsonaro, mesmo se condenado, pode ser crucial para as eleições. Por mais que a condenação o retire do campo de batalha eleitoral como candidato, sua influência sobre os votos da direita seria mantida, talvez até ampliada, à medida que ele se colocaria como um representante do povo contra o establishment.

Esse cenário também implica que as forças políticas da direita precisarão redirecionar suas estratégias eleitorais. A figura de Bolsonaro não desapareceria da política nacional; ao contrário, sua candidatura indireta, por meio do apoio a um sucessor ou a um novo candidato à presidência, poderia fortalecer a direita e unir diferentes facções políticas em torno da ideia de resistência ao que consideram como um sistema político hostil.

A Tensão entre Justiça e Política

Em paralelo, o processo de investigação e julgamento de Bolsonaro também desafia a relação entre o sistema judiciário e o poder político. O STF tem sido visto como um ator central nessa disputa, não apenas por suas decisões em relação ao ex-presidente, mas também pela postura forte que tem adotado em relação à preservação da democracia. Por outro lado, figuras de direita que defendem Bolsonaro veem o tribunal como parte de uma elite política que demoniza os conservadores e abre espaço para a radicalização de discursos.

Em relação à anistia dos golpistas de 8 de janeiro, a possibilidade de Bolsonaro continuar influente nas decisões eleitorais também afeta as negociações sobre a redução do prazo de inelegibilidade e outras medidas que possam ser vistas como benefícios para seus apoiadores. Há ainda uma pressão para que o STF libere o caminho para uma possível anistia, o que garantiria a reintegração de muitas dessas figuras ao cenário político.