Água contaminada por arsênico ameaça mulheres e crianças no Peru

(AFP Photo)
DA REDAÇÃO

A população do norte do Peru enfrenta um dilema crítico: conviver com a contaminação por arsênico, amplamente utilizado na mineração, ou abandonar suas casas e recomeçar a vida em outro lugar. Esse elemento químico, classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos mais perigosos para a saúde pública e um potente cancerígeno, está presente na água consumida por centenas de famílias na região de Ancash.

Sayuri Moreno, mãe de três filhos, é uma das muitas pessoas afetadas pela contaminação. Durante um exame de pré-natal, ela descobriu que estava contaminada com níveis elevados de arsênico. “Senti medo, porque havia escutado que isso provocava câncer”, diz Sayuri. Seus filhos, Keity e Iker, também testaram positivo para arsênico em níveis acima dos permitidos. Sua filha caçula, Valéria, que nasceu há 11 meses, foi poupada da amamentação para evitar a contaminação.

A contaminação não é um problema isolado. Em Huarmey, um distrito do departamento de Ancash, com 3.000 habitantes, as autoridades detectaram níveis elevados de arsênico em 120 dos 140 moradores examinados. A maioria dos afetados são mulheres e crianças.

A origem da contaminação ainda não foi oficialmente determinada, mas a proximidade com atividades de mineração levanta suspeitas. José Saldívar, diretor do Hospital de Huarmey, considera a situação alarmante e prevê que até 80% dos exames futuros poderão detectar níveis elevados de arsênico. O arsênico está naturalmente presente em minérios de cobre, e o Peru é o segundo maior produtor mundial desse metal, após o Chile.

O arsênico, mesmo em pequenas doses, pode causar sérios problemas de saúde, incluindo lesões na pele e vários tipos de câncer, como de pele, bexiga e pulmão. A contaminação por arsênico é tratada com quelantes, mas não há cura definitiva. Percy Herrera, chefe da Equipe de Metais Pesados do Ministério da Saúde, ressalta que a melhor intervenção é identificar e controlar a fonte da contaminação, tarefa que vai além das capacidades do sistema de saúde.

A recomendação dos médicos para famílias como a de Sayuri é deixar a região, mas para muitos, como ela e seu marido Alan Guerrero, um pescador, essa não é uma opção viável. A pesca é a principal fonte de renda, e sem alternativas econômicas, eles foram obrigados a retornar após uma tentativa de mudança de três meses.

Além dos desafios de saúde, as famílias enfrentam dificuldades financeiras para comprar água engarrafada e fórmula para bebês, produtos necessários para evitar a contaminação contínua. “Estamos abandonados no porto, não temos ajuda de ninguém, temos uma mineração tão poderosa que não podemos fazer nada”, lamenta Alan, que também teme estar contaminado.

Outra moradora, Mireya Minaya, vive uma situação ainda mais desesperadora. Durante a gravidez, foi diagnosticada com uma concentração de 142 microgramas de arsênico por litro de urina. Seu bebê, Danna, nasceu contaminado, e seu filho mais velho, Fabricio, de três anos, que sofre de anemia, apresentou uma concentração alarmante de 540 microgramas.

O governo peruano tem pago pela transferência e tratamento dos afetados em Lima, mas muitos, como Mireya, retornam por falta de opções. Após descobrir tumores potencialmente malignos em seus ovários, Mireya voltou ao porto por medo e falta de condições de tratamento adequado. “Estávamos vivendo normalmente… e, de repente, esse pesadelo aconteceu. Não sabemos se algum dia isso vai acabar”, diz, entre lágrimas.

A contaminação por arsênico no norte do Peru é um problema grave que exige uma solução urgente. A saúde de centenas de pessoas, especialmente mulheres e crianças, está em risco. A necessidade de uma resposta efetiva das autoridades de saúde e de uma regulamentação mais rigorosa sobre as atividades de mineração é imperativa para garantir a segurança e o bem-estar dessas comunidades.