Lei brasileira não prevê translado de brasileira morta em vulcão na Indonésia

DA REDAÇÃO

A morte trágica de uma jovem brasileira durante a erupção de um vulcão na Indonésia reacendeu debates sobre a responsabilidade do Estado em casos de acidentes fatais com cidadãos no exterior. O caso ganhou repercussão nacional não apenas pela natureza dramática do ocorrido, mas também pela ausência de cobertura estatal para o translado do corpo, um procedimento extremamente custoso para famílias que enfrentam uma perda abrupta e dolorosa.

De acordo com a legislação vigente no Brasil, o governo não possui obrigação legal de arcar com os custos do traslado de corpos de brasileiros falecidos no exterior. A responsabilidade recai integralmente sobre os familiares da vítima, o que representa um fardo adicional em meio à dor do luto. No caso em questão, a comoção foi tamanha que o ex-jogador de futebol Alexandre Pato se ofereceu espontaneamente para cobrir todas as despesas logísticas do retorno do corpo da jovem ao Brasil, demonstrando solidariedade diante da ausência de amparo estatal.

O gesto de Pato emocionou os brasileiros e levantou questionamentos sobre a atuação do Itamaraty e a cobertura da rede consular em situações similares. Embora o Ministério das Relações Exteriores preste auxílio burocrático, como o contato com autoridades locais e o apoio à documentação necessária para o repatriamento, não há previsão orçamentária que permita ao governo federal pagar diretamente por traslados funerários. A situação evidencia um vácuo institucional em casos de calamidades envolvendo cidadãos em solo estrangeiro.

A jovem brasileira estava na Indonésia a turismo quando foi surpreendida por uma erupção do Monte Lewotobi Laki-laki, que lançou uma coluna de cinzas de mais de 11 km de altura, forçando autoridades locais a elevarem o alerta ao nível máximo. O episódio ocorreu no momento em que diversos turistas exploravam a região vulcânica, considerada um destino popular entre aventureiros e amantes da natureza.

Relatos de testemunhas revelam que a jovem tentou fugir da área de risco, mas foi surpreendida pela velocidade da erupção. Ainda não se sabe se houve falhas de sinalização ou comunicação por parte das autoridades locais. As investigações seguem em andamento, enquanto o Brasil acompanha com atenção os desdobramentos da tragédia.

Este tipo de situação não é incomum. O Brasil registra, todos os anos, casos de brasileiros mortos no exterior em acidentes, assassinatos ou eventos naturais. Em boa parte desses episódios, as famílias dependem de campanhas solidárias nas redes sociais para arrecadar recursos que viabilizem o traslado do corpo, cujos custos podem ultrapassar os R$ 40 mil, dependendo da distância e das exigências sanitárias e diplomáticas entre os países envolvidos.

Especialistas em direito internacional e consular apontam que seria possível implementar um fundo público emergencial, destinado a cobrir casos humanitários graves, como mortes inesperadas em zonas de conflito ou catástrofes naturais. Tal medida exigiria a aprovação de projeto de lei específico, além de previsão orçamentária anual para contemplar possíveis emergências.

Enquanto isso, casos como o da jovem brasileira morta na Indonésia colocam a sociedade diante de sua vulnerabilidade frente às limitações legais. O ato de generosidade de Pato, embora louvável, revela a ausência de uma política pública robusta para proteger cidadãos em situações extremas fora do território nacional.

Em nota, o Itamaraty lamentou a morte da brasileira e informou que prestou apoio à família com orientações formais, intermediação junto ao governo indonésio e à embaixada brasileira no país. No entanto, reforçou que a legislação atual não permite o custeio de despesas funerárias por parte do governo federal. A embaixada também expressou agradecimento pela iniciativa de solidariedade do ex-jogador Alexandre Pato.

O caso pode motivar parlamentares a reavaliarem dispositivos legais que tratam de assistência consular, especialmente em tempos de globalização, em que brasileiros viajam com cada vez mais frequência ao exterior inclusive para regiões consideradas de alto risco geológico ou geopolítico. Atualmente, mais de 4 milhões de brasileiros vivem fora do país, o que torna urgente o debate sobre proteção cidadã além das fronteiras.

Enquanto o corpo da jovem segue os trâmites de repatriação, a comoção popular continua mobilizando internautas e reacendendo discussões sobre os deveres do Estado frente a tragédias de brasileiros no exterior. O gesto de empatia de um atleta notório como Pato traz alívio a uma família devastada, mas também pressiona o poder público a refletir sobre como acolher os seus mesmo quando a dor acontece longe de casa.