
A eleição de Leão XIV como novo líder da Igreja Católica não apenas marca a chegada do primeiro papa norte-americano da história, como também reacende o debate em torno das finanças papais. Nome de batismo Robert Francis Prevost, o novo pontífice decidiu adotar o nome de Leão XIV em homenagem a seus antecessores que lideraram a Igreja com vigor e firmeza em momentos de crise. A escolha, segundo analistas, não é meramente simbólica: ela traduz uma visão clara de resgate de princípios doutrinários, somada à urgência de conduzir o Vaticano com foco em moralidade e responsabilidade global.
Leão XIV assume a liderança da Santa Sé após a morte do papa Francisco, que faleceu aos 88 anos em abril de 2025. Sua escolha causou comoção e surpresa, especialmente por se tratar de um cardeal agostiniano, de perfil reservado, com forte envolvimento pastoral e teológico, mas relativamente desconhecido fora dos círculos mais internos da Igreja. No entanto, sua eleição representa a continuidade do trabalho de Francisco no que diz respeito à abertura, simplicidade e, principalmente, ao distanciamento de privilégios materiais.
É nesse ponto que Leão XIV também segue uma tradição silenciosa, mas eloquente, da Cúria Romana: os papas não recebem salário. A informação, que já havia sido confirmada pelo próprio Francisco em entrevistas anteriores, agora ganha novo fôlego diante da curiosidade popular sobre o estilo de vida do novo pontífice. Em 2023, no documentário “Amém: Perguntando ao Papa”, Francisco havia afirmado com leveza que nunca recebeu pagamento por suas funções. “Quando preciso de dinheiro para comprar sapatos ou algo assim, eu peço”, disse ele, enfatizando que não se preocupava com finanças pessoais.
Essa prática está diretamente ligada ao voto de pobreza que acompanha a vida religiosa de muitos membros da Igreja, especialmente entre os jesuítas e agostinianos, ordens às quais Francisco e Leão XIV pertencem. Embora não tenha salário, o papa tem suas necessidades cobertas pelo Vaticano, incluindo moradia, alimentação, vestuário e segurança. Todos os custos são geridos pelo orçamento da Santa Sé, que é sustentado por doações, contribuições voluntárias dos fiéis — como o tradicional “Óbolo de São Pedro” — e pelos investimentos do próprio Estado Vaticano.
Além disso, o pontífice administra um fundo voltado à caridade global, o que reforça sua missão de liderança espiritual e humanitária. Durante o papado de Francisco, por exemplo, foram registrados diversos atos de doação a causas emergenciais em todo o mundo, incluindo uma contribuição significativa de meio milhão de dólares para apoio a refugiados na América Central.
Leão XIV herda esse papel não apenas como símbolo, mas como gestor prático de uma instituição milenar. Entre seus desafios imediatos estão a continuidade da luta contra abusos sexuais dentro do clero, a reforma da Cúria Romana, a retomada do diálogo com outras religiões e a reconciliação entre as alas conservadoras e progressistas dentro da própria Igreja. Sua postura já começou a se delinear na escolha do altar voltado aos cardeais em sua primeira missa, sinalizando humildade e colegialidade.
Outro ponto que marcará seu pontificado é a capacidade de lidar com a pressão geopolítica. Com guerras em curso, como o conflito entre Rússia e Ucrânia, e a instabilidade política em várias regiões da África e Oriente Médio, espera-se que o papa atue como figura diplomática de consenso. A visita esperada de Leão XIV à ONU, ainda neste ano, deverá consolidar esse papel.
Apesar das atribuições que assemelham o papa a um chefe de Estado, o seu poder reside principalmente na moral e no exemplo. A não remuneração salarial, por mais simbólica que seja, reforça a visão de que o serviço prestado à Igreja é vocacional e não um ofício com contrapartidas materiais.
Vale lembrar que a tradição de não pagar salários aos pontífices foi objeto de especulação pública em diversas ocasiões, incluindo rumores sobre uma suposta remuneração a João Paulo II no início dos anos 2000. Na época, o Vaticano foi taxativo: nenhum papa jamais recebeu um vencimento formal.
Assim, ao assumir o cargo sem salário, mas com todos os recursos necessários para executar suas funções de maneira digna e eficiente, Leão XIV reafirma o espírito de simplicidade que Francisco consolidou em seus 12 anos de pontificado. Um gesto que ecoa os ensinamentos de Cristo, para quem servir aos outros era mais valioso do que ser servido.
Enquanto milhares de fiéis no mundo celebram a escolha do novo líder, o Vaticano envia uma mensagem clara sobre a natureza espiritual e não material de sua missão. E Leão XIV, com serenidade e firmeza, parece disposto a continuar essa trajetória, guiando a Igreja com base em valores atemporais — humildade, generosidade e dedicação.