
Guerra na Ucrânia: Zelensky acusa Rússia de violar trégua de Páscoa com mais de 300 ataques, e Moscou responde com acusações semelhantes
O frágil cessar-fogo de Páscoa proposto por Vladimir Putin naufragou em poucas horas. Neste domingo (20/4), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de ter violado a trégua pascal com centenas de ataques em diferentes frentes do conflito. Em resposta, o Ministério da Defesa russo alegou que tropas ucranianas também descumpriram o acordo, lançando drones e disparos contra bases e soldados russos. Ambos os lados, portanto, se acusam mutuamente de minar o que deveria ser uma pausa humanitária de 30 horas.
Anunciada na sexta-feira (18/4) por Vladimir Putin, a trégua teria início ao meio-dia de sábado e se estenderia até as 18h de domingo, pelo horário de Brasília. O gesto foi interpretado por muitos analistas como uma tentativa de alívio diplomático diante do acirramento da guerra, que já se estende por mais de três anos. No entanto, o cessar-fogo teve curta duração e pouca eficácia prática, segundo os relatos de Kiev.
Zelensky denuncia ofensiva russa durante trégua
Em pronunciamento divulgado pelas redes sociais, Zelensky afirmou que o exército russo “está tentando criar uma impressão pública de cessar-fogo, mas continua realizando ofensivas localizadas”. Segundo o presidente ucraniano, apenas entre o meio-dia de sábado e o início da manhã de domingo foram registrados 387 bombardeios e 19 ataques em diferentes regiões do país.
Entre a meia-noite e o meio-dia de domingo, no horário local (entre 18h de sábado e 6h de domingo em Brasília), Zelensky disse que ocorreram ao menos 26 ataques adicionais, com maior intensidade a partir das 4h. “Na prática, ou Putin não tem controle sobre seu próprio exército, ou o governo russo nunca teve a intenção real de interromper a guerra — apenas queria propaganda positiva”, afirmou.
Kremlin nega acusações e culpa Kiev por violações
Moscou rebateu imediatamente as declarações de Zelensky. O Ministério da Defesa da Rússia afirmou que suas tropas estavam respeitando “estritamente” o cessar-fogo de Páscoa e que os ataques reportados pelo lado ucraniano seriam, na verdade, ações defensivas diante das provocações de Kiev.
Segundo o comunicado oficial, a Ucrânia teria disparado 444 tiros e lançado 48 drones contra posições russas durante o período da trégua. “Tropas ucranianas continuam a atacar cidades pacíficas na região de Kherson, violando a trégua de Páscoa”, afirmou Vladimir Saldo, governador da região nomeado por Moscou.
Trégua temporária virou impasse diplomático
A chamada “trégua de Páscoa” foi inicialmente vista como um sinal positivo para a retomada de negociações, especialmente após declarações do ex-presidente dos EUA e atual líder, Donald Trump, indicando que os diálogos entre Rússia e Ucrânia estavam “chegando a um ponto crítico”.
No entanto, o que parecia ser um gesto de boa vontade rapidamente se transformou em mais um impasse diplomático. A ausência de supervisão internacional ou de um mediador neutro tornou o acordo meramente simbólico e sujeito a violações de ambos os lados.
Analistas apontam que o anúncio da trégua por Putin pode ter tido mais valor estratégico do que humanitário. Com a Páscoa celebrada tanto por ortodoxos russos quanto por cristãos ucranianos, o cessar-fogo poderia reforçar a imagem pública de moderação por parte do Kremlin — ao menos perante seus próprios cidadãos e alguns aliados.
Proposta de trégua mais longa permanece em aberto
Zelensky voltou a propor a extensão da trégua por 30 dias, ideia que já havia sido ventilada por Kiev nos dias anteriores. O presidente ucraniano reiterou que seu governo está disposto a adotar a medida, “desde que haja reciprocidade e controle externo que garanta sua validade”.
A proposta ainda está sendo analisada por intermediários internacionais, incluindo representantes do Vaticano e da Turquia, que nos últimos anos tentaram atuar como mediadores neutros no conflito. Até o momento, não há previsão de nova reunião de negociação entre os dois governos.
Realidade no campo de batalha segue sangrenta
Independentemente das declarações diplomáticas, os relatos vindos de cidades do leste e do sul da Ucrânia mostram que o cessar-fogo teve impacto limitado. Moradores relataram sons de explosões durante toda a madrugada, especialmente na região de Kharkiv e na província de Donetsk, onde as tropas russas têm intensificado suas investidas.
Kherson, uma das cidades mais visadas pela artilharia russa desde a retomada parcial por Kiev em 2022, voltou a ser alvo de bombardeios, segundo autoridades locais. Hospitais de campanha relataram a chegada de dezenas de feridos entre civis e militares, inclusive durante o intervalo em que a trégua deveria estar em vigor.
Putin e Zelensky mantêm posições irredutíveis
Nos bastidores da diplomacia internacional, fontes ligadas à ONU e à União Europeia apontam que as conversas entre representantes dos dois países seguem travadas. Putin insiste na anexação dos territórios ocupados como condição para qualquer cessar-fogo definitivo. Já Zelensky exige a retirada completa das tropas russas e a reintegração territorial da Crimeia, tomada pela Rússia em 2014.
A morte de civis, os ataques com drones e os bloqueios logísticos se tornaram rotina em ambos os lados. Enquanto isso, milhões de ucranianos permanecem deslocados ou vivendo em zonas de guerra, com acesso limitado a eletricidade, água potável e atendimento médico.
O fracasso do cessar-fogo de Páscoa escancara a dificuldade de avançar para um acordo sustentável. As acusações cruzadas entre Rússia e Ucrânia mostram que, mesmo diante de uma data sagrada, a guerra segue ditando o ritmo da realidade. Sem monitoramento externo, sem garantias e com interesses geopolíticos conflitantes, a esperança por um fim imediato das hostilidades continua distante.
Enquanto isso, a população civil segue sendo a maior vítima de um conflito que, mesmo após três anos, mostra poucos sinais de esgotamento. A Páscoa de 2025, que poderia simbolizar paz e renovação, acaba marcada por mais destruição, dor e desconfiança mútua.