Cientistas Detectam Indícios Inéditos de Vida em Planeta Alienígena com Telescópio James Webb

DA REDAÇÃO

Em uma descoberta que pode redefinir os rumos da astrobiologia moderna, um grupo de cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, anunciou evidências sem precedentes de possíveis sinais de vida fora do sistema solar. Utilizando os avançados instrumentos do Telescópio Espacial James Webb (JWST), os pesquisadores identificaram, na atmosfera do exoplaneta K2-18 b, dois gases cuja origem, na Terra, está diretamente ligada a processos biológicos: o sulfeto de dimetila (DMS) e o dissulfeto de dimetila (DMDS).

Esses compostos químicos, segundo os especialistas, são emitidos em nosso planeta principalmente por fitoplâncton marinho — organismos microscópicos que habitam os oceanos e realizam fotossíntese. Embora a presença dos gases não confirme de forma definitiva a existência de organismos vivos, os cientistas descrevem os achados como a bioassinatura mais forte já detectada fora da Terra.

Uma nova era da astrobiologia

“Este é um momento transformador na busca por vida além do sistema solar”, afirmou o astrofísico Nikku Madhusudhan, autor principal do estudo publicado na Astrophysical Journal Letters. “Pela primeira vez, demonstramos que é possível detectar bioassinaturas em exoplanetas potencialmente habitáveis com a tecnologia atualmente disponível.”

Os dados do Webb apontam que os compostos foram detectados em concentrações atmosféricas superiores a 10 partes por milhão — milhares de vezes acima dos níveis encontrados na Terra. A confiabilidade das medições atingiu 99,7%, uma margem considerada alta na astrofísica, embora ainda exista uma chance de 0,3% de o resultado ser um erro estatístico. Madhusudhan ressalta: “Essa concentração, com base no que conhecemos hoje, não pode ser explicada por processos não biológicos.”

K2-18 b: o planeta oceânico que pode abrigar vida

O exoplaneta K2-18 b já era conhecido da comunidade científica desde 2015, mas foi com os recentes dados coletados pelo JWST que ele passou a ocupar um lugar central no debate sobre a existência de vida fora da Terra. Localizado a 124 anos-luz de distância, na constelação de Leão, o planeta orbita uma estrela anã vermelha fria e menos luminosa que o Sol. Está situado na chamada “zona habitável”, onde as condições permitem a presença de água líquida — elemento essencial à vida como a conhecemos.

Com massa 8,6 vezes maior e diâmetro 2,6 vezes superior ao da Terra, K2-18 b é classificado como um possível “mundo oceânico”, coberto por vastas extensões de água líquida e com uma atmosfera rica em hidrogênio. Observações anteriores já haviam identificado a presença de metano e dióxido de carbono — ambos elementos associados à atividade biológica.

Agora, com a possível detecção do DMS e do DMDS, o cenário ganha uma nova dimensão. “É o único modelo atual que explica todos os dados coletados até agora”, reforça Madhusudhan.

A ciência ainda pede cautela

Apesar da euforia, os pesquisadores evitam afirmar que descobriram vida. Eles preferem o termo “bioassinatura”, um conceito que se refere a qualquer indicador de atividade biológica. “Estamos falando de possibilidades”, afirma Madhusudhan. “A hipótese mais razoável é a de vida microbiana. Ainda não temos ferramentas para responder se há organismos multicelulares ou inteligência.”

Outros cientistas, que não participaram do estudo, também pedem prudência. Christopher Glein, do Southwest Research Institute, elogiou o rigor técnico da equipe, mas destacou a necessidade de validação. “Os dados do K2-18 b são fascinantes, mas precisamos de análises independentes para confirmar essas conclusões. Esse é o próximo passo.”

O papel do James Webb e o futuro da astrobiologia observacional

Desde que foi lançado, em dezembro de 2021, e passou a operar plenamente em 2022, o Telescópio Espacial James Webb tem revolucionado a compreensão do universo. Com seus instrumentos infravermelhos e capacidade de observar atmosferas de exoplanetas com precisão sem precedentes, o Webb representa um avanço histórico na astronomia.

É graças a esse equipamento que cientistas conseguiram pela primeira vez identificar moléculas orgânicas complexas na atmosfera de um exoplaneta localizado na zona habitável de uma estrela. Isso inaugura uma nova disciplina científica: a astrobiologia observacional.

Até então, o estudo de vida fora da Terra era limitado a suposições baseadas em modelos, simulações laboratoriais e missões restritas ao sistema solar. Com o James Webb, é possível agora observar diretamente atmosferas de planetas a dezenas ou centenas de anos-luz, aumentando exponencialmente as chances de encontrar vida.

Os próximos passos da busca por vida fora da Terra

O estudo sobre K2-18 b é apenas o começo. Diversos outros exoplanetas estão sendo monitorados por telescópios espaciais e terrestres, entre eles TRAPPIST-1e, LHS 1140 b e Gliese 581g, todos localizados em zonas habitáveis. Além disso, missões futuras como o Telescópio Espacial Roman e o Extremely Large Telescope (ELT), em construção no Chile, devem expandir ainda mais a capacidade de observação.

A própria NASA, ao lado da ESA (Agência Espacial Europeia), já estuda formas de identificar sinais mais complexos, como variações sazonais de gás ou mesmo emissão de luz artificial, como possíveis indícios de civilizações tecnológicas.

Madhusudhan é categórico: “A grande lição aqui é que não estamos mais no campo da ficção científica. A tecnologia nos permite testar, medir e analisar. E agora, mais do que nunca, estamos próximos de responder à pergunta que acompanha a humanidade há milênios: estamos sozinhos?”

Conclusão: um marco histórico na ciência contemporânea

A detecção de bioassinaturas na atmosfera do K2-18 b representa um divisor de águas na exploração espacial. Embora os cientistas ainda não possam confirmar a existência de vida, o achado demonstra que já é possível identificar sinais químicos associados à biologia fora da Terra.

Mais do que uma descoberta isolada, trata-se do início de uma nova fase científica. Pela primeira vez, temos as ferramentas para investigar de forma direta e confiável a possibilidade de vida em outros mundos. É um passo gigantesco — não apenas na astronomia, mas na compreensão de nosso lugar no universo.

E talvez, em breve, a Terra deixe de ser o único exemplo conhecido de mundo habitado.

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