Dólar Bate Recorde Histórico e Chega a R$ 6, Enquanto Ibovespa Tem Maior Queda em Dois Anos

DA REDAÇÃO

O mercado financeiro brasileiro enfrentou um dia turbulento nesta quinta-feira, 28 de novembro, com o dólar atingindo um novo recorde histórico de R$ 5,9891. A moeda americana chegou a bater a marca de R$ 6 pela primeira vez na história, com a máxima do dia registrada em R$ 6,0029. Esse movimento foi acompanhado de perto pelos investidores, enquanto o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, sofreu uma queda de 2,40%, a maior variação negativa desde janeiro de 2023, quando o índice recuou 3,06%.

O dólar, que acumula uma alta de 23,42% no ano, teve uma forte valorização devido ao anúncio do pacote fiscal do governo federal e à proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para trabalhadores que ganham até R$ 5 mil mensais. No entanto, a alta do dólar foi acompanhada de um clima de desconfiança nos mercados financeiros, especialmente devido às implicações fiscais da isenção do IR e do pacote de corte de gastos, que podem afetar a sustentabilidade fiscal do governo.

A Reação do Mercado

O mercado reagiu com cautela ao detalhamento das medidas fiscais do governo, que incluem um corte de gastos de R$ 70 bilhões em 2025 e 2026. O plano de isenção de IR, que atende a uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também teve grande impacto no clima econômico. A proposta de isenção para quem ganha até R$ 5 mil mensais, atualmente limitada a R$ 2.824, representará uma perda de arrecadação de cerca de R$ 50 bilhões.

Embora a isenção tenha sido comemorada por muitos trabalhadores, especialmente os de menor renda, ela gerou um desconforto no mercado financeiro, que teme o impacto fiscal dessas medidas. O presidente do Bradesco Asset, Bruno Funchal, comentou sobre o impacto do pacote de cortes de gastos, destacando que a medida vai na direção certa, mas que o risco fiscal representado pela isenção do IR gera uma percepção de risco maior no mercado.

“Embora o pacote de corte de gastos tenha sido positivo, o risco fiscal envolvendo a revisão da tabela de IR acaba por trazer um risco fiscal relevante, o que elevou a percepção de risco no mercado”, afirmou Funchal. Esse fator, combinado com a política fiscal expansionista do governo, resultou na maior queda do Ibovespa desde o início de 2023.

O Pacote Fiscal: Cortes e Reformas

O pacote fiscal apresentado pelo governo inclui, além do corte de gastos, medidas para controlar o crescimento das despesas públicas nos próximos anos. A principal medida de ajuste das contas será a limitação do reajuste real do salário mínimo a 2,5%, o que impactará não só o salário mínimo, mas também benefícios previdenciários, como aposentadorias, e programas de assistência social, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o seguro-desemprego.

Outra medida importante será a limitação do abono salarial para trabalhadores com rendimento de até 1,5 salário mínimo, o que representa um corte significativo no número de beneficiados. O governo justifica essas ações como necessárias para manter o equilíbrio fiscal, mas os críticos apontam que essas medidas podem prejudicar os trabalhadores de baixa renda, justamente o público que deveria ser protegido em tempos de crise.

Dólar e o Impacto Econômico

Com o dólar renovando seu recorde histórico, muitos analistas apontam que a pressão sobre a moeda americana está ligada à percepção de risco fiscal do país. A alta do dólar tem gerado incertezas sobre a saúde da economia brasileira, especialmente em um momento em que o governo tenta implementar reformas e pacotes fiscais ambiciosos. A moeda americana não apenas ultrapassou a barreira de R$ 6, mas também apresentou uma alta de 3,02% na semana e 3,59% no mês, o que preocupa os investidores em termos de inflação e custos de importação.

Além disso, o impacto da alta do dólar sobre o Ibovespa também foi significativo. O índice de ações da bolsa brasileira fechou em queda de 2,40%, refletindo a aversão ao risco dos investidores diante da incerteza fiscal. Das 86 ações que compõem o índice, apenas 8 conseguiram fechar em alta, o que demonstra o pessimismo que domina o mercado.

Expectativas Futuras e Desafios para o Governo

O governo de Lula enfrenta um cenário desafiador, onde as medidas fiscais necessárias para controlar os gastos públicos precisam ser equilibradas com a necessidade de atender às expectativas da população e dos investidores. Embora o pacote fiscal tenha sido desenhado para reduzir as despesas do governo, ele ainda precisa ser aprovado no Congresso Nacional, e o apoio político será fundamental para garantir que as reformas avancem sem prejudicar a economia e a confiança do mercado.

A questão do Imposto de Renda, por exemplo, precisa passar por um debate aprofundado, pois a isenção para quem ganha até R$ 5 mil poderá aumentar a pressão sobre a arrecadação do governo, exigindo novos ajustes fiscais no futuro. O impacto disso no câmbio e na inflação é um tema central para os economistas e para os formuladores de políticas do governo.