Guilherme Boulos supera Pablo Marçal e enfrentará Ricardo Nunes no segundo turno em São Paulo

Ricardo Nunes (MDB), Pablo Marçal (PRTB) e Guilherme Boulos (PSOL) — Foto: Fotos de arquivo
DA REDAÇÃO

Com 99% dos votos apurados, a disputa pela Prefeitura de São Paulo se consolidou como uma das mais acirradas desde a redemocratização. Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito, obteve 29,5% dos votos válidos, enquanto Guilherme Boulos (PSOL), deputado federal, alcançou 29,1%. Ambos garantiram vaga no segundo turno da eleição municipal, deixando Pablo Marçal (PRTB) em terceiro lugar, com 28,1% dos votos, após uma campanha marcada por reviravoltas e momentos de tensão.

A corrida eleitoral em São Paulo já vinha mostrando um cenário incerto, com três candidatos — Nunes, Boulos e Marçal — tecnicamente empatados nas pesquisas de intenção de voto. No início da apuração, Marçal figurava na segunda colocação, mas perdeu força à medida que mais urnas foram contabilizadas, consolidando a passagem de Boulos para a próxima fase da eleição.

A trajetória de Marçal e os desafios da campanha

Pablo Marçal, conhecido por sua atuação como influenciador digital e ex-coach, surpreendeu ao iniciar sua campanha com forte apoio popular, impulsionado pelo apoio de Jair Bolsonaro e outros líderes conservadores. No entanto, Marçal enfrentou diversas polêmicas durante a corrida, incluindo a divulgação de informações falsas sobre os adversários. Na sexta-feira anterior à eleição, ele publicou um laudo falso que acusava Boulos de uso de cocaína, o que levou a Justiça a derrubar suas postagens e suspender sua conta no Instagram.

A campanha de Marçal também foi marcada por uma divisão dentro do eleitorado de direita, já que Ricardo Nunes, apoiado pelo governador Tarcísio de Freitas, também buscava conquistar o apoio de bolsonaristas e evangélicos. Apesar disso, Marçal liderou entre os eleitores mais alinhados ao ex-presidente Bolsonaro, enquanto Nunes lutava para conquistar o mesmo segmento, participando de inúmeros compromissos religiosos ao longo da campanha.

Boulos e a estratégia de Lula

Guilherme Boulos, por sua vez, conseguiu solidificar seu avanço ao longo da campanha com uma estratégia bem definida de colar sua imagem à do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A aliança com Lula se mostrou decisiva, especialmente nos dias que antecederam a eleição. Na véspera do pleito, os dois realizaram uma caminhada juntos pela Avenida Paulista, o que fortaleceu o apoio de eleitores ligados à esquerda.

Além disso, Boulos apostou na conquista do voto da população mais pobre, em um embate direto com Ricardo Nunes. Ambos os candidatos concentraram suas campanhas na periferia de São Paulo, disputando o eleitorado que sofre com as desigualdades sociais e econômicas. No entanto, Boulos foi o que acumulou maior número de compromissos na região, fortalecendo sua presença entre os mais humildes.

A posição de Tabata Amaral e José Luiz Datena

No pelotão mais abaixo, a deputada Tabata Amaral (PSB) terminou com 9,9% dos votos, enquanto José Luiz Datena (PSDB) obteve apenas 1,8%. Apesar de não terem chances de passar para o segundo turno, ambos candidatos traçaram estratégias distintas nos dias finais de campanha.

Tabata, que vinha crescendo nas pesquisas, apostou em uma forte presença nos debates televisivos e em agendas ao lado de Geraldo Alckmin, vice-presidente da República. Sua campanha direcionou o foco para o eleitorado feminino, buscando ampliar seu alcance entre as mulheres. Tabata também enfrentou um manifesto de apoio a Boulos, assinado por artistas e intelectuais, que pediam voto útil no candidato do PSOL para evitar dois candidatos de direita no segundo turno. A atitude foi criticada pela deputada, que chamou o movimento de “desespero”.

Já Datena, que em julho figurava nas pesquisas com números mais expressivos, viu sua candidatura perder força com o passar das semanas. Nos últimos dias de campanha, ele optou por uma estratégia mais discreta, com poucas aparições públicas. Sua candidatura, no entanto, foi vista como uma tentativa do PSDB de retomar relevância no cenário político da capital paulista.

O segundo turno

Com a definição do segundo turno entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos, a campanha promete intensificar-se nos próximos dias. Ambos os candidatos têm bases eleitorais sólidas, mas disputarão o apoio dos eleitores de Marçal, que ficaram de fora da próxima fase. Nunes buscará consolidar o apoio dos bolsonaristas e dos setores religiosos, enquanto Boulos tentará ampliar sua vantagem entre os eleitores de esquerda e conquistar aqueles que buscam renovação política na cidade.

O segundo turno se desenha como um embate entre dois projetos distintos para a cidade de São Paulo: de um lado, a continuidade da administração de Nunes, marcada pela gestão pragmática e apoio de figuras conservadoras; do outro, a proposta progressista de Boulos, que se apresenta como alternativa para uma cidade mais inclusiva e voltada para as necessidades das classes mais baixas.

Com as estratégias ainda em formação, a eleição em São Paulo entra em uma nova fase, e o resultado final permanece incerto, refletindo a polarização política que marca o Brasil atualmente.