Seis Meses de Milei: Argentina Vê Melhora Econômica, mas Enfrenta Cortes em Cultura, Ciência e Educação

Presidente da Argentina, Javier Milei. Foto: Juan Mabromata/AFP
DA REDAÇÃO

Nesta segunda-feira (10), a Argentina completa seis meses sob o governo do presidente Javier Milei. Desde sua posse, Milei adotou medidas rigorosas para equilibrar as finanças de um país em crise há muitos anos. No entanto, essas medidas não vieram sem controvérsias, especialmente em setores como cultura, ciência e educação.

No primeiro episódio da reportagem especial do Fantástico sobre o governo Milei, exibida no último domingo (2), foram destacadas as duras ações econômicas implementadas pelo presidente. Essas incluíram cortes de subsídios, paralisação de todas as obras federais e o bloqueio dos repasses de dinheiro para os estados. Como resultado, o governo conseguiu o primeiro superávit fiscal desde 2008, e a inflação mensal começou a cair — de 25% quando Milei tomou posse para 8,8% em abril.

Apesar da melhora nos números econômicos, muitos setores foram gravemente afetados pelos cortes, especialmente a cultura, a ciência e a educação. No segundo episódio da série, o Fantástico detalha esses impactos e mostra a reação da população nas ruas.

O setor cultural foi um dos mais atingidos. O presidente decretou grandes cortes de verbas públicas, colocando o setor artístico em crise. O fechamento temporário do INCAA, o Instituto Nacional do Cinema da Argentina, foi uma das medidas mais drásticas. Segundo Milei, o motivo é que ninguém assistia aos filmes produzidos pelo Instituto, uma afirmação contestada por figuras proeminentes do cinema argentino, como o ator Ricardo Darín.

“É um momento de mudança. Torço para que se chegue a um equilíbrio”, avaliou Darín. Ele, que trabalha principalmente para plataformas estrangeiras, expressou preocupação com o impacto das políticas de Milei no coletivo artístico e nos colegas do audiovisual e do teatro.

O bloqueio de verbas para a cultura é parte do que Milei chama de “batalha cultural”, que também abrange atritos com a ciência e as universidades. Antes da eleição, Victor Ramos, um dos maiores pesquisadores argentinos, alertava que Milei era uma ameaça à ciência. Após assumir a presidência, Milei fechou o Ministério da Ciência, agora parte de um superministério chamado Capital Humano, e congelou o orçamento das universidades públicas e do CONICET, o maior organismo federal de pesquisa.

Em resposta, aproximadamente um milhão de estudantes foram às ruas em defesa do ensino público. Nas universidades, os cortes já são visíveis; na Universidade de Buenos Aires, apenas um elevador funciona na Faculdade de Medicina para economizar energia.

A reação da população tem sido mista. Enquanto em bairros nobres de Buenos Aires, como San Isidro, há apoio significativo ao governo, em comunidades mais pobres, como Villa 31, a realidade é diferente. Federico, um residente de Villa 31 que apoiava Sergio Massa, adversário de Milei, relatou a perda do emprego e dificuldades financeiras crescentes. Em contraste, a feirante Roxana Orozco, que votou em Milei, vê a estabilização dos preços como um sinal positivo e mantém seu apoio ao governo.

No ambiente político polarizado, os números são os melhores indicadores a serem seguidos. Uma pesquisa do Observatório da Dúvida Social, da Universidade Católica Argentina, revelou que a pobreza aumentou de 44,4% no terceiro trimestre de 2023 para 57,4% em janeiro, refletindo o impacto inicial das políticas de Milei.

Milei defende que sua estratégia econômica fará a Argentina passar por um “V”, com uma queda inicial devido aos cortes e ajustes, seguida por um crescimento. O deputado federal Oscar Zago apoia essa visão, destacando a redução da inflação e a eliminação do déficit fiscal. No entanto, ele não soube explicar quando essas melhorias se refletirão na vida da população.

Desde 10 de abril, o Fantástico procurou vários membros do governo Milei, incluindo a ministra do Capital Humano, Sandra Pettovello, e o ministro da Economia, Luis Caputo, mas nenhum deles quis falar à reportagem.

Acompanhe mais reportagens e análises sobre o governo Milei e os desdobramentos na Argentina no Fantástico e em nossos canais digitais.